Tenha pela primeira vez na vida um gesto de grandeza, presidente Jair Bolsonaro: renuncie o mais rápido possível, antes que te tirem daí à força, levado por médicos ou generais. Seria a solução mais rápida e indolor para preservar a vida e a sanidade de 208 milhões de brasileiros. Impeachment seria um processo complexo e demorado, o país não aguentaria esperar. Manifestações de rua pedindo a sua saída seriam inviáveis neste momento em que o país é assolado por uma pandemia e é obrigado a ficar em casa. Todos à sua volta já sabem que o senhor não tem mais as mínimas condições políticas, mentais e morais de continuar à frente do governo, ainda mais num momento grave como esse.
O que se discute agora, abertamente em Brasília, e por toda parte, até no mercado financeiro, é como e quando se dará o desenlace, quem assumirá a cadeira presidencial. Pouco importa. O importante é que o senhor saia daí depressa porque se tornou um estorvo de alta periculosidade, que está desonrando a Presidência da República e ameaçando as outras instituições num processo acelerado de destruição dos alicerces do país. Chega, não dá mais
Pega uma caneta Bic e escreve uma breve mensagem ao presidente do Congresso pedindo as contas, e vá cuidar da sua saúde física e mental, que parece bastante abalada. Ainda ontem, ao se perceber cada vez mais isolado, o senhor disse que “se a economia afundar, acaba o meu governo”. Perfeito. Mas o que falta? A economia já afundou bem antes do coronavírus e seus ministros já não sabem mais o que fazer, à medida em que a crise institucional se agrava.
Bastava ver a cara do ministro da Economia Paulo Guedes, completamente perdido, titubeando nas palavras nervosas e sem sentido, ao anunciar medidas paliativas na segunda-feira, que não vão resolver nenhum problema e agravar outros. Acabou a munição de mágicas neoliberais do “Posto Ipiranga” e ele também parece louco para pedir o boné e se mandar logo daqui. “Diante da enormidade do desafio, cujo sucesso será avaliado em vidas e empregos poupados, seria desperdício de tempo preocupar-se com as bizarrices de Bolsonaro”, escreve a Folha hoje no editorial “Presidente confinado”. É disso que se trata: está em jogo a sobrevivência, não de um governo, mas de todos os brasileiros.
Então, o que falta para tomar a grande decisão da sua vida que pode salvar um país? Pede pra sair, presidente! O senhor já chegou a pensar nisso? A última bizarrice foi montar às pressas um “gabinete de crise” no Palácio do Planalto, chefiado por um general em lugar de um médico, no mesmo momento em que seu ministro da Saúde se reunia do outro lado da praça com os chefes dos outros poderes para discutir o agravamento da situação na saúde pública com o avanço da pandemia, sem a sua presença.
Não poderia haver sinal mais evidente de que o senhor pode continuar sentado na cadeira presidencial, mas já não governa mais, como lhe disse aquele haitiano em frente ao Alvorada num vídeo que circula pelas redes sociais. “Bolsonaro acabou”, gritava ele, cara a cara com o presidente vendo a cena, bestificado. Tenho certeza que a maioria do povo brasileiro hoje pensa como eu e o haitiano anônimo. Se o senhor mesmo acha que o resultado da eleição de 2018 foi fraudado, para quê prolongar esta agonia?
Vida que segue.
Ricardo Kotscho, 72, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964.
Fonte: https://noticias.uol.com.br/colunas/balaio-do-kotscho