Michelle Bolsonaro bateu o martelo: Flávio Dino é “extremamente comunista” e não pode assumir uma cadeira no Supremo.
No sábado, a ex-primeira-dama acusou o ministro da Justiça de atentar contra “a família e os bons costumes”. “Se ele é comunista, ele é contra os valores e princípios cristãos. Não existe comunista cristão. É de contramão (sic) com a palavra de Deus”, sentenciou.
Em encontro do PL, Michelle investiu nas metáforas bíblicas para demonizar o desafeto do marido. Chamou Dino de “lobo em pele de cordeiro” e de “pai da mentira”, expressão usada no Novo Testamento como sinônimo de Satanás.
A ex-primeira-dama acrescentou que as igrejas deveriam “se posicionar”. Rápido no gatilho, o pastor Silas Malafaia conclamou os evangélicos a fazerem jejum antes da sabatina no Senado.
Dino era filiado ao PCdoB quando governou o Maranhão por oito anos. Não consta que tenha comido criancinhas, expropriado os meios de produção ou incorporado a foice e o martelo à bandeira do estado.
Na campanha à reeleição, ele teve o apoio de outros 15 partidos, num arco que ia do PT ao DEM. Hoje pertence aos quadros do PSB, ao lado de perigosos socialistas como Geraldo Alckmin e Tabata Amaral.
A retórica do anticomunismo andava fora de moda desde a queda do Muro de Berlim. Seu retorno aos palanques brasileiros é mais um legado nefasto do bolsonarismo, ao lado do discurso armamentista e da pregação contra as vacinas.
Quem não gosta de Dino pode encontrar outros argumentos para criticar sua indicação, como o fato de Lula não ter escolhido uma mulher para a vaga de Rosa Weber. Ao apelar ao espantalho ideológico, a oposição só contribui para radicalizar os eleitores e empobrecer o debate público no país.
Na segunda-feira, o deputado Eduardo Bolsonaro admitiu que é “bem difícil” ver a indicação de Dino barrada no Senado. Ao atacar o ministro, o clã busca outros objetivos: reagrupar a extrema direita e minar a confiança no Supremo. E Michelle tenta se credenciar como herdeira política do capitão, apesar do desgaste com as joias e os cheques do Queiroz.
Bernardo Mello Franco, jornalista
Fonte: https://oglobo.globo.com/