Agora já é possível encontrar-se uma explicação razoável para o triste Brasil de hoje: o país está dominado pela hipocrisia, influenciado por fakenews
, contaminado pelo ódio e controlado por desequilibrados emocionais e mentais. Ou seja, o Brasil está enfermo. Depois das revelações feitas pelo site The Intercept, que expôs as vísceras da Lava-Jato e arrancou a máscara dos seus integrantes, o segmento do país que conseguiu manter a sua sanidade tomou conhecimento dos enormes estragos causados à nação e seu povo por aquela operação e seus aliados na mídia, na Suprema Corte e no Congresso Nacional. E além da violação da Constituição, do atropelamento das leis, das manobras e da manipulação da imprensa, de movimentos sociais, de ministros dos tribunais superiores e de parlamentares; de conspirações para movimentação e derrubada de membros do STF e do faturamento com palestras, desenvolvendo ações criminosas mais graves do que as que pretendiam combater, sabe-se agora que entre os condutores dos processos também havia o instinto assassino. A autoridade máxima do Ministério Público, o Procurador Geral da República Rodrigo Janot, que durante quatro anos destruiu a reputação de muita gente e encaminhou outro tanto para as prisões, confessou em entrevista a diversos veículos que planejou matar o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, por pouco não cometendo o crime porque o medo paralisou o seu dedo no gatilho a alguns metros da quase vítima.
A inesperada confissão, que caiu como uma bomba no colo da Justiça, deixou evidente o risco que todos os brasileiros passaram a correr com esses desequilibrados a partir do funcionamento da Lava-Jato, criada aparentemente para combater a corrupção e que, na verdade, se revelou um poderoso instrumento para atender interesses políticos. A força-tarefa que, graças ao apoio incondicional da grande imprensa, se transformou num poder paralelo no país, ganhou tanta força que chegou a contribuir decisivamente para o impeachment da Presidenta Dilma Roussef e até a interferir nas eleições presidenciais de 2018, mudando os rumos da história. A eleição de Bolsonaro é um dos seus subprodutos. Os seus principais chefes – o então juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol – que foram transformados em super-heróis, conquistando uma enorme legião de admiradores dentro e fora do país, foram desnudados agora pelo The Intercept, que os revelou como realmente são: perigosos vilões. E o Supremo, que sempre endossou os seus atos, parece que finalmente reconheceu o seu erro e deve agora corrigir os abusos da República de Curitiba, fazendo justiça e anulando os atos vergonhosos praticados pelos falsos heróis. A aprovação da ação que questionou o desrespeito ao direito de defesa dos réus, que deve ser concluída nesta quarta-feira, pode assinalar o marco de um novo tempo na Justiça brasileira, duramente manchada pelos desmandos da Lava-Jato. Para isso, no entanto, é fundamental não haver tergiversação na decisão final. O julgamento da ação, que reivindica ao réu delatado o direito de manifestar-se após o delator e antes das alegações finais, iniciado quarta-feira passada, revelou o comprometimento dos ministros Fachin, Barroso e Fux com a Lava-Jato, confirmando as suas estreitas ligações que a divulgação dos diálogos secretos do pessoal da força-tarefa já havia revelado. Em seus argumentos ficou claro a preocupação dos três com aquela operação, ignorando o verdadeiro foco da ação: assegurar aos acusados o direito à ampla defesa, que havia sido negado. O ministro Roberto Barroso, que os lavajateiros queriam como relator da operação no Supremo, foi o mais enfático na defesa da força-tarefa, manifestando o receio de que a aprovação da ação possa anular todas as condenações feitas em Curitiba. A julgar pelos argumentos de Barroso, tem-se a impressão de que até antes da Lava-Jato o Brasil era um país de corruptos pois, segundo ele, a corrupção aqui era “estrutural e institucionalizada”. Ouvindo-o chega-se à conclusão de que hoje os únicos honestos no país são ele e o pessoal daquela operação. Aliás, segundo noticiou-se recentemente, ele teria dito, numa palestra na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, que a sociedade já teria percebido que “o STF é um obstáculo ao combate à corrupção”. O Supremo, portanto, tem agora mais uma oportunidade ´para mostrar que é mesmo Supremo, guardião da Constituição e garantidor dos direitos do cidadão.
Na verdade, os espertos integrantes e aliados da Lava-Jato criaram a tese, abraçada e difundida por ingênuos e imbecis, de que todos os que criticam os atos daquela força-tarefa são favoráveis à corrupção, uma forma inteligente de inibir os que discordam dos métodos utilizados naquela operação para atingir seus objetivos. Todo mundo é favorável ao combate à corrupção, o que fez a Lava-Jato conquistar de imediato a simpatia de todos, mas sabe-se hoje que tudo não passou de uma farsa para esconder os verdadeiros objetivos políticos da operação. As críticas se intensificaram em toda parte e o clima começou a mudar no Supremo, onde a operação perdeu apoio, com sucessivas derrotas naquela Corte. Os ministros finalmente acordaram e devem recolocar as coisas em seus devidos lugares. Por conta disso devem enfrentar muitas ameaças e agressões, sobretudo da milícia virtual bolsonarista, mas desta vez parece que não se intimidarão, até porque já demonstraram, com as ações contra o ex-PGR Janot, que não mais ficarão de braços cruzados diante das investidas dos seus inimigos, o que certamente resultará na anulação das injustiças da Lava-Jato.
A propósito, talvez o empenho de Barroso, Fachin e Fux pela rejeição da ação em julgamento tenha como principal objetivo impedir que a sua aprovação possa beneficiar o ex-presidente Lula, que terá suas condenações anuladas. Apenas a título de ilustração, vale lembrar que os três foram nomeados pelos governos petistas de Lula e Dilma e hoje mordem a mão que os colocou na Suprema Corte. O ex-presidente, aliás, que todo mundo sabe foi condenado sem nenhuma prova, apenas para impedi-lo de concorrer nas últimas eleições, por força de lei deveria ser posto em liberdade agora, porque já cumpriu um sexto da pena que lhe foi imposta injustamente pelo juiz Sergio Moro, mas como ele tem consciência de que não cometeu nenhum delito já afirmou que não quer o semiaberto. O próprio pessoal da Lava-Jato já pediu a sua libertação para cumprir o resto da pena em casa, diante da perspectiva da sua próxima liberdade determinada pelo Supremo, mas a verdadeira intenção deles é humilhar Lula, que se sair para o semiaberto terá de usar tornezeleira eletrônica.
No entanto, mesmo contrariando o apelo dos seus familiares e amigos para aceitar a prisão domiciliar, que não interferirá nas suas ações em tramitação no Supremo, Lula afirmou que sem a anulação da sua sentença prefere continuar na prisão, de cabeça erguida. Afinal ele sabe, como de resto o Brasil e o mundo, que é um preso político, pois seu único crime foi ter a preferência do eleitorado brasileiro para voltar a ocupar o Palácio do Planalto.
Jornalista e escritor
Fonte: https://www.brasil247.com