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Brasil queimado

Deu no “New York Times”. E no Washington Post, no Le Monde, na BBC e nos maiores veículos de comunicação do mundo

. O Brasil é notícia. Os incêndios na Amazônia despertaram a atenção do planeta — #prayforamazon está no topo das redes sociais. Em 14 horas, foram disparados 2,5 milhões de tuítes, segundo levantamento publicado pela Folha de S.Paulo. Celebridades e governantes não falam de outro assunto, sejam as fotos falsas ou não. O G-7 vai tratar do tema em reunião em Biarritz, na França, neste fim de semana. Manifestações foram convocadas por ativistas em vários países.

Aqui, Jair Bolsonaro reagiu com o fígado. Primeiro, duvidou dos dados do INPE e demitiu o diretor do órgão. Contestou imagens da Nasa. Acabou com o Fundo Amazônia, brigando com Angela Merkel e com o governo da Noruega. Apelou à retórica nacionalista, atacou ONGs e, diante dos fatos, pediu ajuda aos militares, enviando tropas à Amazônia, depois de admitir que não há dinheiro para combater o fogo. “Chegamos ao caos” disse o presidente da República. E, como sempre, também culpou a imprensa. Disse que a mídia faz campanha contra o Brasil.

A área ambiental sempre foi alvo de Bolsonaro. Ainda na fase de transição de governo, o atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciava sem corar aos futuros colegas que a intenção era “não deixar nada do que está aí de pé”. Ou seja, desmontar o esquema de fiscalização e favorecer o agronegócio. Assumiram o poder com uma mentalidade dos anos 70, quando falar de meio ambiente era exótico, e quando o governo militar incentivava a ocupação desenfreada da região como forma de combater a “internacionalização” — integrar para não entregar, era a palavra de ordem.

O problema de Salles e do presidente da República é que o mundo mudou. Uma adolescente sueca, Greta Thunberg, atrai todas as atenções ao cruzar o oceano, do Reino Unido para Nova York para participar de uma conferência da ONU sobre mudanças climáticas. Viaja num veleiro ecológico para evitar a poluição provocada pelos aviões. Tem conseguido a atenção dos líderes mundiais. A questão ambiental está hoje no primeiro plano. Há muito deixou o nicho dos verdes e se tornou essencial ao próprio sistema capitalista. Empresas e países — como a China — mundo gastam milhões de dólares em pesquisa para reduzir os danos ambientais. Há um novo consumidor, e quem não entender a transformação vai perder o bonde.

No momento em que o Brasil vive uma crise econômica profunda e fala em reformas para atrair investimentos estrangeiros, o discurso do governo é um contrassenso. Um tiro no pé. O presidente francês, Emmanuel Macron, diz que Bolsonaro mentiu, e a Europa pode retaliar o país com sanções econômicas. O acordo com a União Europeia já está em risco. Apesar disso, Bolsonaro deverá insistir nos ataques aos críticos. Desde que chegou ao Planalto, é ele o maior inimigo de seu governo.

Jornalista

Fonte: https://osdivergentes.com.br