O Brasil vive hoje, talvez, o período mais difícil de toda a sua história. Além da corona vírus, que já matou mais de 90 mil brasileiros por conta da negligência do governo federal no combate à pandemia, o nosso país, com mais de 11 milhões de desempregados e sem nenhuma perspectiva a médio prazo, voltou para o mapa da fome, de onde havia sido retirado pelo governo Lula. Ao mesmo tempo vai perdendo a floresta amazônica, destruída de forma acelerada com o incentivo do governo, e com ela os investimentos, notadamente os estrangeiros, com graves prejuízos para a nossa economia. Despreparado para o cargo e preocupado apenas com a questão ideológica, assombrado com o velho comunismo junto com militares anacrônicos que integram o seu governo, o presidente Bolsonaro se mantém no poder sustentado pelas fakenews que o elegeram e escravizaram parte da população, iludindo-a com mentiras diárias nas redes sociais. Para completar o quadro, ressuscitou o velho Serviço Nacional de Informações (SNI), criado na ditadura para monitorar seus opositores no serviço público.
Afora pequenas divergências, graças à democracia ainda vigente, os três poderes parecem afinados na tarefa de destruir as conquistas duramente alcançadas ao longo dos últimos vinte anos. Depois da derrubada de Dilma no golpe de 2016, com a cumplicidade do Judiciário, o Brasil mergulhou num retrocesso que se iniciou com a extinção da CLT, prosseguiu com a reforma da Previdência e tem sequência com a destruição das leis ambientais, até então consideradas as mais avançadas do mundo. Cooptado pelo capitão, ao custo de cargos e verbas, o Congresso garante a aprovação de tudo o que o governo manda, algumas vezes rebelando-se e alterando certos dispositivos dos projetos enviados. No geral, porém, faz o que Bolsonaro quer. Mais de 30 pedidos de impeachment do Presidente já deram entrada na Câmara, mas o seu presidente, deputado Rodrigo Maia, se recusa a apreciá-los, preferindo engavetá-los sob os mais diferentes e cínicos pretextos.
Na verdade, o impeachment não mudará em nada a situação caótica do país, pois a saída de Bolsonaro implicará na assunção do general Hamilton Mourão, que só é diferente do capitão na patente. Ele defende a política ambiental desastrosa do governo e enrola todas as vezes em que, como presidente do Conselho da Amazônia, é questionado sobre a devastação da floresta amazônica. Fala, fala e não diz absolutamente nada e nem toma qualquer providência para conter o desmatamento. E mais recentemente defendeu a reeleição de Bolsonaro, afirmando, inclusive, que o capitão chegará em 2022 “extremamente competitivo”. Pelo visto o general também se convence das próprias mentiras do governo, propagadas pela indústria oficial de fakenews e, a exemplo dos bolsonaristas, acredita que o capitão se reelegerá no próximo pleito. Para observadores, nem Bolsonaro aqui e Trump nos Estados Unidos conseguirão reeleger-se, pois cometeram os mesmos erros no comando de suas nações. Eles foram eleitos e sobrevivem graças às fakenews que, no entanto, estão perdendo força.
Constata-se que o comportamento de Maia em relação ao governo é idêntico ao adotado pelo Supremo Tribunal Federal, cujo presidente, o ministro Dias Toffoli, às vezes funciona até como conselheiro do presidente Bolsonaro. Toffoli, que foi acusado de ser petista quando assumiu a cadeira na Corte Suprema, como seu presidente acabou mostrando as pontas das penas tucanas escondidas sob a toga: ao mesmo tempo em que tomava decisões prejudiciais ao ex-presidente Lula, que o nomeou para o STF, beneficiava tucanos emplumados como José Serra e Aécio Neves. Determinou a suspensão das investigações sobre Serra e Aécio, acusados de receberem propinas, inclusive proibindo que o material suspeito já apreendido em operações de busca e apreensão sejam examinados. Aliás, ele nem precisava expor-se tanto, pois o relator “sorteado” para os inquéritos no Supremo, envolvendo os dois tucanos, foi o ministro Gilmar Mendes, nomeado por Fernando Henrique e cujas penas estão inteiramente à mostra.
E por falar em Gilmar, o polêmico ministro decidiu adiar, mais uma vez, o julgamento da ação que pede a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, que vem sendo procrastinado há bastante tempo porque a sua aprovação implicará na anulação da condenação de Lula. Por conta da pandemia, os julgamentos no STF em sido virtuais, mas Gilmar quer, agora, que o julgamento da suspeição do ex-ministro da Justiça seja presencial. Foi o melhor pretexto que ele arranjou para, mais uma vez, adiá-lo, embora o processo já estivesse em pauta muito antes do aparecimento da Covid-19. Vale lembrar que o ministro Gilmar Mendes é o mesmo que tem livrado a cara de tucanos na Corte Suprema e que, em contrapartida, atropelando a Constituição em 2016 impediu Lula de assumir a chefia da Casa Civil no governo Dilma.
Enquanto isso, a antes toda poderosa Lava-Jato vai derretendo e poderá, inclusive, ser alvo de uma CPI da Câmara dos Deputados, proposta pelo deputado Paulo Pimenta para investigar seus abusos, especialmente a sua “caixa preta”. O próprio Procurador Geral da República, Augusto Aras, declarou em recente entrevista que é preciso abrir a caixa de segredos daquela operação. Aras, aliás, teve de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para que fosse obedecido pelos seus subordinados da Lava-Jato, que se recusavam a compartilhar com ele as suas investigações. Como durante algum tempo os lavajateiros foram os homens mais poderosos do país, criando um poder paralelo – a República de Curitiba – que atropelava a Constituição e afrontava até o Supremo, Dallagnol e companhia achavam que ainda estavam com essa bola toda e, por isso, afrontaram o PGR. Até o ex-chefão da operação, o ex-juiz Sergio Moro, que se promoveu à frente daquela força-tarefa, resolveu criticar Aras, agindo, evidentemente, em defesa própria, pois ele sabe o que fez “no verão passado”.
E por falar em Moro, ele está preocupado, também, com a possibilidade do Congresso Nacional aprovar um projeto de lei estabelecendo uma quarentena de oito anos para que ex-magistrados e membros do Ministério Pública possam concorrer a cargos eletivos. Esse prazo foi defendido por Dias Toffoli e Rodrigo Maia, presidentes, respectivamente, do Supremo e da Câmara dos Deputados, mas as associações de classe dos magistrados protestaram, considerando-o desproporcional. Maia informou que já existe um projeto tramitando no Congresso e que a tendência é que seja aprovado, o que poderá frustrar o sonho de Moro de concorrer à Presidência da República. A Globo, no entanto, que abraçou a candidatura do ex-juiz, já iniciou uma ofensiva contra o PGR Augusto Aras e, também, contra a proposta de quarentena para magistrados que, se aprovada, obviamente prejudicará o seu candidato. Enquanto isso o Brasil navega à deriva, em águas turvas e destino incerto, a reboque dos Estados Unidos. Diante disso, só nos resta rogar: Deus tenha misericórdia de nossa Nação.
Ribamar Fonseca, jornalista e escritor
Fonte: Brasil247.com.br