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Bolsonaro22 ganha estrutura política, mas perde o discurso

Bolsonaro22 ganha estrutura política, mas perde o discurso

Jair Bolsonaro está recebendo agora a compensação por ter entregue, de porteira fechada, o governo ao Centrão, sob a forma de apoio político e palanques nos estados. Oferecendo recursos e benesses que só um governo pode dar — inclusive verbas do orçamento secreto — PL e PP foram os partidos que mais engordaram na janela partidária. Embora sua prioridade seja, claramente, eleger bancadas robustas para negociar com qualquer governo a partir de 2023, esse crescimento dá mais estrutura e capilaridade a Bolsonaro22 nos estados.

Uma situação diferente daquela que Bolsonaro18 enfrentou. Naquela ocasião, um outsider sem  palanques, estrutura e partido (o PSL era até então um nanico) elegeu-se graças a  discurso ideológico-relogioso-moralista que se coadunou com o mau humor da opinião pública em relação aos políticos e à política. Sem esquecer, é claro, a facada a um mês da eleição.

Sobre esse último item, o imponderável, não há o que dizer. Mas é possível observar que o Bolsonaro22 é uma espécie de adversário do Bolsonaro18, numa eleição em que outros fatores aparentemente vão pesar mais do que um discurso moralista anti-corrupção e apelos religiosos.

Bolsonaro22 corre atrás daquilo que ele desprezava em 2018, na companhia dos que naquela ocasião xingava, porque percebeu que não se elege mais no gogó. Seu discurso anticorrupção está desmoralizado, e não apenas pelas más companhias do PL, do PP e de outros. Teve que demitir bolsonaristas ideológicos como Ricardo Salles e Milton Ribeiro por causa de escândalos no Meio Ambiente e na Educação.

Bolsonaro perdeu o discurso e não conseguiu construir outro.Tudo indica que o pleito de 2022 será um plebiscito que terá no centro das decisões o fiasco administrativo, econômico e social que marcou os três anos e meio do atual governo. O presidente-candidato corre atrás de uma nova narrativa, e sabe que para sustentá-la precisa das más companhias do Centrão e de seus palanques.

A inflação ascendente corrói benefícios lançados de última hora de forma eleitoreira pelo governo, como o Auxílio Brasil turbinado — a ponto de nas pesquisas, seus beninflação, Lula, Educação, Meio Ambiente, Ricardo Salles, Milton Ribeiro,eficiários se mostrarem majoritariamente simpatizantes da candidatura do ex-presidente Lula. Bolsonaro conseguiu melhorar um pouco sua rejeição em relação à atuação do governo na pandemia, mas os fantasmas dos 660 mil mortos e dos quase 30 milhões de casos de Covid estão muito vivos para quem perdeu pessoas queridas ou contraiu o vírus.

Por fim, a retomada do discurso golpista do presidente pode ser a gota d’água na decisão eleitoral de uma faixa da população que não se preocupa com preços nem com Covid, mas que faz negócios e sabe que, se a imagem do país for para o ralo de vez, eles também vão.


Jornalista, formada na Universidade de Brasília em 1982

Fonte: https://osdivergentes.com.br