O presidente Jair Bolsonaro tem feito a festa dos jornalistas que fazem plantão todas as manhãs na porta do Palácio da Alvorada
, debaixo da mangueira para escapar ao sol inclemente e à umidade relativa do ar de menos de 20% – e só quem tem quilometragem de plantão entende isso. Mas Bolsonaro, todas as manhãs, a caminho do Planalto, faz uma boa ação: para ali, desova a besteira do dia, sempre transmitida em live, e, afinal, libera os jornalistas para saírem daquele ambiente inóspito e ir beber água.
A loucura de ontem foi a acusação de que as ONGs que perderam o dinheiro dos fundos estrangeiros estão tocando fogo na Amazônia. Um Deus-nos-acuda. Ainda que não tenha apresentado provas, e tenha ressaltado isso, o presidente criou mais uma grande confusão com os ambientalistas.
Mas a de hoje foi pior, porque voltou a cutucar a Polícia Federal e, de quebra, esvaziar mais uma vez seu ministro da Justiça, Sergio Moro. Disse Bolsonaro agora há pouco: “se não posso trocar o superintendente, vou trocar o diretor geral”, em mais uma afirmação para reforçar sua posição de que pode, sim, interferir nos órgãos de controle e em seus cargos de direção.
Com isso, ameaçou o diretor geral da PF, Mauricio Valeixo, que na semana passada deixara clara sua contrariedade com o anúncio precoce e a iniciativa presidencial de indicar o novo superintendente no Rio, enunciada há uma semana. Naquele dia, Valeixo, com o apoio de Moro, divulgou nota oficial desmentindo as razões apresentadas por Bolsonaro para a substituição de Ricardo Saadi e anunciou um novo nome, diverso do preferido de Bolsonaro – a quem coube recuar diante da disposição do diretor de pedir demissão se fosse mais uma vez desautorizado.
Hoje viu-se que o recuo foi muito breve, e que Bolsonaro, embora tenha dito que não vai demitir ninguém agora, está com Valeixo entalado na garganta. Como, segundo interlocutores, Valeixo também está com Bolsonaro entalado na garganta, é crescente a possibilidade de um desfecho nos próximos dias – se o presidente, no particular, não se explicar ao diretor da PF.
É até possível que o ministro Sergio Moro faça essa ponte para, mais uma vez, apaziguar os ânimos. Mas ele já não está mais com essa bola toda nem junto ao presidente e nem junto à PF. Segundo essas mesmas fontes, há uma grande crise à vista na Polícia Federal.
Jornalista
Fonte: https://osdivergentes.com.br