“Os idiotas governarão o mundo, não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos” (Nelson Rodrigues).
Num país em que os idiotas perderam a modéstia, a profecia do grande cronista da alma brasileira agora é confirmada pelos fatos. Nada mais deveria nos surpreender.
Mas é espantoso que a campanha pela sucessão de Bolsonaro, em 2022, já tenha começado, apenas seis meses após a posse do capitão.
É mais um recorde mundial batido pelo Brasil, sil, sil.
Para que ninguém pense que o atual governo jurídico-militar-fundamentalista já acabou, antes de começar, o inacreditável presidente anunciou que será candidato à reeleição.
Agora temos três candidatos em campanha. João Doria e Sergio Moro, da mesma escuderia, são os concorrentes já posicionados na faixa de largada, esquentando os motores.
E onde fica a oposição nesta corrida maluca?
Com o cacife de 48 milhões de votos herdados de Lula na última eleição, Fernando Haddad se recolheu a um obsequioso silêncio e agora mais parece candidato a reitor da USP.
Perdido no espaço, dede que voltou do exílio em Paris no segundo turno, Ciro Gomes também faz do antipetismo a sua bandeira, o que o coloca ao lado dos candidatos da situação.
Fora isso, o que temos? Os outros líderes do que sobrou da chamada esquerda simplesmente sumiram na poeira (epa!) do bolsonarismo em marcha acelerada para o caos.
É tudo tão doido que, depois de receber uma medalha do concorrente Doria, o ex-juiz vai colocar seu bloco nas ruas neste domingo, no pré-lançamento oficial da sua campanha, patrocinada por patos, paneleiros e outros bichos criados pelo lavajatismo de camisa amarela.
Em meio a esta balbúrdia institucional, o noticiário até já se esqueceu dos 38 quilos de cocaína transportados no avião presidencial da FAB, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Mesmo tendo um avião à sua disposição, Bolsonaro abandonou neste sábado um importante encontro bilateral no Japão. Saiu batendo o pé porque o presidente da China se atrasou no compromisso e ele estava com pressa. Para fazer o que? Voltar ao hotel para arrumar as malas.
Foi a chave de ouro de um festival de bizarrices no encontro de cúpula do G-20 em que o capitão fez a sua estréia triunfal dando patatadas para todo lado.
Estava mais preocupado em comer churrasco, tirar selfies e promover bijuterias de nióbio, lembrando antigos programas de vendas pela televisão daquele “ligue djá”.
O capitão vive em outro mundo. Aqui, na vida real, com a economia parada à espera da reforma da Previdência, o desalento dos milhões de desempregados bate recordes, jogando cada vez mais gente nas calçadas do desespero.
De um dia para outro, tudo vai sendo normalizado e pasteurizado na grande usina de reciclagem dos rejeitos produzidos pela destruição do país.
Estamos entrando num beco escuro sem saber o que tem do outro lado. Não há luz no fim do túnel.
Como se vivêssemos no melhor dos mundos, os pais da pátria agora só pensam em 2022, se a democracia sobreviver até lá, com armas para todos, rasgando a Constituição, detonando o meio ambiente e a soberania nacional.
Foi-se mais um semestre perdido, sem nenhuma reação da sociedade ao grande desmanche das instituições e dos direitos sociais.
Os mais otimistas já estão dizendo que ainda não vimos nada. O pior sempre pode acontecer, mas não dá para saber o que será.
Uma dica: neste fim de semana, se você ainda não viu, corra para assistir no Netflix ao aterrorizante documentário “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, uma obra prima sobre a tragédia brasileira, mostrando como tudo começou, muitos séculos atrás.
Vida que segue.
Repórter desde 1964
Fonte: https://www.balaiodokotscho.com.br