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Bolsonaro avança sinais na mesma aposta errada de Collor e de Dilma

O que se espera de todo e qualquer governante em uma democracia é um mínimo de respeito aos eleitores. O desrespeito é motivo de polêmica mundo afora. Como em algumas republiquetas, inclusive na farsa agora ensaiada por Donald Trump nos Estados Unidos, isso pode virar um escárnio. É nesse mesmo fiasco que Jair Bolsonaro se fia na expectativa de sobreviver às promessas de sua campanha —  o combate à corrupção é apenas a maior delas — que não entregou.

Por exemplo, prometeu cuidar de cada centavo aplicado com o dinheiro público. O desleixo é impressionante. O carimbo no uso e desperdício da sofrida grana paga pelos contribuintes, como as centenas de milhões de reais perdidas por suposto viés ideológico no combate à pandemia, por si só seria motivo de processo de impeachment.

O fato de o país estar necessitando de testes para o combate ao recrudescimento da pandemia, enquanto milhões deles mofam em um galpão pago pelo Ministério da Saúde, é um crime que tamanha a circunstância sem precedente em nossa história. Desvio, desleixo e desperdício de dinheiro público infelizmente é uma prática em todas as esferas de administração Brasil afora.

O que espanta é isso ser feito na cara dura na maior pandemia no planeta em um século. O governo Bolsonaro, mais uma vez, acha que não tem de prestar contas. Não importa a perda de centenas de milhões de reais e as vidas que poderiam ser salvas. Se diz honesto e dane-se quem tem dúvida.

A aposta de Jair Bolsonaro e de seu clã para seus desatinos é uma areia movediça. Antes se respaldavam na votação obtida para chegar ao Planalto, depois no apego ao apoio militar. Após essas ilusões, caiu na real de todos os governos desde a redemocratização do país. Com o agravante de entrar no jogo com o cacife em em baixa.

Fernando Henrique e Lula, em jogos diferentes, conquistaram apoio parlamentar para seus governos. Ambos tiveram, além de suas próprias bases, apoio do Centrão. Foram governos que tiveram alguma tranquilidade no Parlamento.

Antes deles, Fernando Collor chegou com empáfia, desprezou Câmara e Senado, pisou na bola da corrupção e, mesmo depois de se entregar ao que seria o Centrão de então, o Congresso o desalojou do Palácio do Planalto. Depois deles, Dilma Rousseff assumiu com arrogância, anunciou uma faxina que não conseguiu fazer, perdeu apoio de todos os lados, apostou no Centrão como última cartada e perdeu.

Depois que os militares, por seus comandantes, reafirmaram que não serão usados pelos políticos – recado explícito para Bolsonaro — outras supostas bases de Bolsonaro estão em xeque. As travessuras de Eduardo Bolsonaro, um moleque que ainda não entendeu o peso internacional de ser presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa da Câmara dos Deputados, agravadas por ser filho do presidente da República, em seus infantis ataques a China, irritam o agronegócio e todo o comércio exterior do país.

Brigar com a China, nosso disparada parceira comercial, em nome de uma fidelidade ao decaído Donald Trump, é no mínimo uma insanidade. Por causa desse tipo de delírio, o governo Bolsonaro até agora não reconheceu a vitória de Joe Biden nos Estados Unidos.

Ao bancar todas essas maluquices, Jair Bolsonaro parece ainda não ter entendido que suas âncoras despencam em série. Como todos os outros que se deram mal nesse investimento, ele aposta sua sobrevivência no instável Centrão.


Andrei Meireles, jornalista

Fonte: https://osdivergentes.com.br