Após a indicação de que a legenda se tornaria de direito o que já é de fato, isto é, o partido oficial do governo, houve indicações no final de semana de que o casamento de Bolsonaro com o PP pode não se consumar.
Há custos envolvidos nesse tipo de escolha. O principal deles é que, ao lançar um candidato à presidência da República, se compromete uma parte do fundo partidário que poderia ser dedicado às eleições proporcionais que, no ano que vem, por não preverem coligações, serão uma das mais difíceis da história.
Em 2018, por exemplo, o MDB só aceitou lançar Henrique Meirelles porque o próprio candidato assumiu a conta. Outro problema é a dificuldade de formar alianças estaduais. Por exemplo, na Bahia, o vice-governador de Rui Costa (PT) é João Leão (PP). Bolsonaro deveria ser muito favorito para compensar as possíveis perdas do PP e tornar o movimento atraente.
Além disso, o que mais Bolsonaro pode oferecer que o partido de Arthur Lira já não tenha? Obviamente, mais espaços no governo, ministérios e postos nos escalões inferiores são importantes, mas talvez tudo isso possa ser obtido sem uma filiação formal em função da importância que o partido já possui.
Bolsonaro também poderia promover o aumento da bancada, com o deslocamento dos deputados fiéis a ele que hoje estão em outros partidos, como o PSL. Mas talvez isso não interesse aos líderes estaduais, que podem não querer concorrência local.
Por fim, se Bolsonaro se reeleger sem o PP, continuará precisando dele em 2023. Por essas razões, pode-se dizer que Bolsonaro é, hoje, dependente do PP mais do que gostaria. A recíproca não é verdadeira.
Na verdade, esses mesmos obstáculos se impõem nas alternativas do presidente fora do PP. Agrava o cenário, natural no contexto partidário, a exigência desproporcional à sua força, que Bolsonaro faz para sua filiação: nada menos que ser o dono da legenda.
Leonardo Barreto é Doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB)
Fonte: https://www.metropoles.com