Como é uma cara de ladrão? Provavelmente após ter folheado as obras do higienista italiano Cesare Lombroso (1835-1909) —que relacionava o tamanho da mandíbula à psicopatologia criminal—, o senador Ciro Nogueira afirmou numa entrevista que Bolsonaro não tem tal cara. Só faltou dizer que ele tem um queixo bonitinho.
Os fatos e as joias estão aí, com escandalosas revelações todos os dias. Um terceiro pacote da Arábia Saudita, avaliado em R$ 500 mil, foi entregue em mãos a Bolsonaro, em 2019, e incorporado ao acervo pessoal do ex-presidente. Nele há um relógio Rolex de ouro branco, cravejado de diamantes (R$ 364 mil na internet), e uma caneta prateada com pedras preciosas incrustadas da marca Chopard. Que fim levaram as canetas Bic?
Outros regalos do terceiro conjunto que teria sido trazido na bagagem do próprio Bolsonaro: um par de abotoaduras de ouro branco ornados com um brilhante no centro e rodeados por diamantes; um anel de ouro branco com diamantes; uma masbaha (espécie de rosário árabe) também de ouro branco com brilhantes.
No total, os mimos da ditadura saudita estão avaliados em cerca de R$ 18 milhões. Segundo reportagem de Adriana Fernandes e André Borges, Bolsonaro usou uma fazenda do ex-campeão de Fórmula 1 Nelson Piquet para guardar os presentes, inclusive as joias, que recebeu enquanto ocupava o cargo. Piquet tem se mostrado bastante útil ao esquema do capitão. Já foi motorista e agora virou zelador da caverna de Ali Babá.
Como é o rosto de um corrupto? A pergunta está na mira da Polícia Federal, que investiga a relação entre o ex-presidente (recebido por menos de cem gatos pingados na sua volta ao Brasil) e o regime da Arábia Saudita. Por que ao longo de quatro anos houve 150 viagens de membros do governo ao país? Qual a motivação da entrega de presentes de valor tão elevado? A bela queixada de Bolsonaro?
Álvaro Costa e Silva, jornalista
Fonte: https://www.folha.uol.com.br