Atropelada por prenúncios de uma tragédia, a candidatura de Ricardo Nunes parece dependente de um episódio ao estilo “deus ex machina”. A expressão originada no teatro grego descreve uma intervenção inesperada e de última hora para resolver encrencas.
A campanha na TV vai ajudar o prefeito, mas dificilmente assumirá sozinha a dimensão de milagre. Ainda que Nunes tenha um latifúndio nas telas, a propaganda só será suficiente para mudar o jogo se o candidato for capaz de encaixar uma mensagem forte.
Nunes tem a vantagem de disputar a eleição sentado na cadeira. Ele usará a propaganda para tentar convencer o eleitor de que faz um bom governo e, na sequência, transformar uma avaliação positiva em voto.
O problema é que o prefeito tem uma montanha a escalar. Só 25% dos paulistanos dizem que o governo é ótimo ou bom. Os números não são piores porque sua reprovação também é baixa, de 25%. O foco estará nos 48% que consideram a gestão regular.
A campanha de Nunes decidiu apostar nesse caminho em vez de esperar por um socorro do bolsonarismo. A maior dúvida sobre as chances do prefeito ainda está depositada em sua capacidade de frear a adesão de eleitores de direita a outro campo.
A última semana foi especialmente desastrosa para Nunes, com Jair Bolsonaro dando todos os sinais de que tem interesse em pular no barco de Pablo Marçal para evitar uma derrota pessoal. O risco para o prefeito é que as pesquisas e o apoio do bolsonarismo cristalizem a imagem do ex-coach, dentro desse eleitorado, como o candidato destinado a enfrentar a esquerda.
Restaria a Nunes uma solução que sua campanha começou a ensaiar, apontando que Marçal é tão inconsistente que entregaria a vitória para Guilherme Boulos no segundo turno. O discurso só vai colar se o prefeito conseguir evitar um processo antecipado de normalização da candidatura do ex-coach —algo que se vê nas mesas de empresários e entre eleitores preparados para um vale-tudo contra a esquerda.
A bala de prata seria uma eventual derrubada da candidatura de Marçal pela Justiça Eleitoral. Nesta hipótese, mais que incerta, o prefeito precisaria de uma reação calculada para herdar os votos do ex-coach enquanto assiste, tranquilo, à saída de cena do rival.
Bruno Boghossian, jornalista