Como aconteceu em todas as revelações anteriores feitas pelo The Intercept, nos últimos três meses
, contra os crimes praticados pela Lava Jato ao longo de cinco anos, um silêncio ensurdecedor toma conta do Supremo Tribunal Federal.
Um ou outro ministro, isoladamente, ainda se atreve a fazer alguma alguma crítica ao modus operandi de Moro & Cia., mas o STF, como instituição, faz de conta que o assunto não existe.
Tudo é “normalizado” de um dia para outro e o assunto some do noticiário da imprensa até surgir a próxima denúncia, que terá o mesmo destino.
No próprio domingo, quando novas revelações foram publicadas pelo Intercept, em parceria com a Folha, mostrando a trama para vazar os grampos com áudios de Lula e Dilma, que levaram ao golpe de 2016, o escândalo foi logo abafado pelo noticiário esportivo e a nova cirurgia do presidente.
Até mesmo nas redes sociais, foram tímidas as reações aos diálogos anti-republicanos dos procuradores de Curitiba.
Na verdade, só a direção do PT cobrou uma posição do STF, mas até o momento em que escrevo não obteve nenhuma resposta.
Foram as mais graves denúncias feitas até agora, ao desmontar a tese de Sergio Moro, que justificou a divulgação dos áudios por temer que a nomeação de Lula para o ministério de Dilma era uma manobra para obstruir a Justiça e impedir a prisão do ex-presidente.
O que Lula buscava para aceitar a Casa Civil era reaproximar o governo do PMDB de Temer, para evitar o impeachment, que acabou se consumando, “com Supremo com tudo”, nas palavras proféticas de Romero Jucá.
Com o controle do Congresso, do STF e da mídia, estava tudo armado na Lava Jato para levar Lula à prisão e impedi-lo de disputar as eleições presidenciais do ano passado.
Era este o objetivo desde o início da operação comandada por Sergio Moro, que foi contemplado com um ministério pelo governo eleito graças à Lava Jato.
Por que agora estas forças iriam admitir uma revisão do processo de Lula e permitir que ele saia da prisão já este mês, como aconteceria se as leis em vigor fossem cumpridas?
Como o próprio Deltan Dallagnol disse nas gravações, trata-se de um processo político, muito acima das “filigranas jurídicas”.
Isso só pode acontecer num Estado de exceção, anterior à posse do atual governo miliciano-militar-evangélico, que simplesmente não admite a libertação de Lula, e ponto final.
Se alguém ousar romper esta aliança, Bolsonaro logo acena com a ameaça da “volta do PT” e aponta para a sua retaguarda, onde as Forças Armadas estão sempre de prontidão para “a garantia da lei e da ordem”.
Sem oposição nem povo para reagir ao avanço da destruição do Estado de Direito, assistimos ao avanço lento, gradual e seguro da implantação de uma nova ditadura, não mais dos generais, mas agora de um tenente expulso do Exército, ex-deputado medíocre deputado do baixo clero.
Jair Bolsonaro não era o Plano A de ninguém fora dos quadros da extrema direita porra louca.
Mas, na falta de um concorrente competitivo para derrotar o PT, servia qualquer um.
Está aí o resultado. Deu nisso.
Vida que segue.
Jornalista
Fonte: www.balaiodokotscho.com.br