Entramos no 12º mês do governo (?) do capitão Bolsonaro. Daqui a alguns dias, seu primeiro ano estará concluído. Sem foguete, sem retrato e sem bilhete.
Não houve surpresas na política em 2019. O que se podia esperar de ruim aconteceu. Nada de bom fez com que tivéssemos que reconsiderar as expectativas sombrias do início do ano.
Talvez haja nisso exagero. No lado da ruindade houve, sim, imprevistos. Quem, por exemplo, conseguiria imaginar que o péssimo ministério do início pudesse piorar? Mas foi o que aconteceu. Todos os ministros que saíram cederam lugar a gente ainda mais desqualificada.
No fim de seu primeiro ano, Bolsonaro está tão Bolsonaro como sempre. A mesma grosseria, a mesma mesquinhez, a mesma incapacidade de qualquer gesto de grandeza, a mesma falta de inteligência e educação. Sua equipe é constituída por gente tosca e despreparada. Há quem suponha que eles se entretêm com um jogo perverso: descobrir até onde podem descer, até que ponto podem chegar na afronta aos sentimentos e valores da maioria.
De acordo com as pesquisas, o capitão lidera o ranking dos piores presidentes que o Brasil conheceu. Sozinha, a proporção dos que o avaliam assim equivale à soma do segundo e terceiro colocados, Collor e Dilma. A situação de um cidadão, em início de mandato, que tem uma rejeição igual à soma de dois presidentes que foram depostos não pode ser boa.
O tamanho do núcleo que o apoia na sociedade diminuiu. Bolsonaro não foi apenas incapaz de atrair novos simpatizantes, mas de preservar o patrimônio que uma vitória eleitoral costuma assegurar. Perante a opinião pública, chefiar o governo não somente não o fortaleceu, mas o enfraqueceu.
Resta-lhe a avaliação efetivamente positiva de algo perto de 15% da população. É essa a parcela que gosta dele e aprova suas políticas para a saúde, a educação, a valorização do salário mínimo, a geração de empregos e o meio ambiente. É a mesma proporção dos que consideram que o governo cuida e projeta uma boa imagem internacional do País.
No fundo, haver cerca de uma pessoa em cada dez que aplaude o governo é extraordinário. Que cabeça é essa, de quem aceita os despropósitos que estão sendo cometidos na educação, no meio ambiente e na cultura, por exemplo? O que pensa quem não se envergonha com os fiascos e as declarações estapafúrdias do capitão?
Ao terminar o ano, o que sustenta Bolsonaro é apenas o tempo. A maioria da população, indiferente à politica e mal informada, acha que é cedo para decretar que ele não presta. Se o tempo de governo não fosse ainda pequeno, as cobranças seriam maiores e menor a paciência. A incompetência não seria desculpada como fruto da inexperiência ou da “novidade”.
O problema é que esse tipo de capital decai a cada dia e é impossível renová-lo. O tempo passa e nunca dão certo as tentativas de ganhar mais algum.
Logo depois da eleição de 2018, o Datafolha fez uma pesquisa e constatou que a maioria das pessoas, mesmo as que não haviam votado em Bolsonaro, esperavam melhoras em dois aspectos: na economia, com a retomada do desenvolvimento, e na segurança, com a redução da criminalidade. Até agora, nada disso aconteceu.
Melhora na economia não é algo que precisa ser explicado. Ou é uma constatação que decorre da experiência concreta das famílias, de seus bons empregos, dinheiro no bolso, casa própria e comida na geladeira, ou é conversa fiada. Com a politica econômica do governo, a chance de que uma melhora verdadeira aconteça nos três próximos anos é perto de zero. Os crédulos, entre os quais a grande imprensa brasileira, que esperem o improvável futuro em que o modelo dará certo, enquanto vão engolindo os sapos que o capitão despeja.
Coisa semelhante vale na segurança pública. Bolsonaro e sua turma engrossam a voz e fazem arminha, mas não têm a menor capacidade ou vontade de enfrentar a criminalidade. Só o que podem exibir são fotos de pistolas na cintura e a imagem desbotada de um ex-juiz que alguns acham respeitável.
Tudo considerado, que Bolsonaro e seus amigos comemorem 2019, pois os que vêm pela frente lhes serão mais desfavoráveis. A menos, é claro, que o Exército resolva dar um golpe e entronize o capitão. É ridículo, mas não impossível.
*Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi