Nas projeções do Tribunal de Contas da União perto de 6 mil militares rebaixaram suas patentes para bater continência a Jair Bolsonaro em troca de carguinhos comissionados na administração pública. Além de engrossar os soldos, parte dessa banda podre das Forças Armadas é responsável pelo acúmulo de um rastilho explosivo de suspeitas, escândalos e desvios após se alistaram no pelotão bolsonarista. A mais recente granada de desmoralização foi disparada, novamente, pelo deputado Elias Vaz, sentinela da insaciável farra da farda desde que eles voltaram aos postos de comando. Os levantamentos feitos pelo parlamentar atestaram a compra de 35 mil unidades de Viagra entre 2020 e 2021. O medicamento é o mais popular utilizado para o tratamento da disfunção erétil. Em outro pacote foram adquiridos Minoxidil e Finasterida, remédios usados no combate à calvície masculina. Para o capitão, adepto das parábolas vulgares e que se diz “imbrochável” sem “aditivo”, o gasto para levantar o moral da tropa “não é nada”.
O desfile de compras pornográficas e injustificáveis não amolece. De acordo com o Portal da Transparência e o Painel de Preços do governo federal o Exército, atual mancha-verde da vergonha nacional, adquiriu 60 próteses penianas infláveis no valor total de R$ 3,5 milhões. Foram realizados três pregões eletrônicos em 2021 para a aquisição dos produtos, cujo comprimento varia entre 10 e 25 centímetros. O equipamento também é indicado para impotência. O primeiro pregão foi de 10 unidades em março de 2021, no valor de R$ 50,1 mil cada, para o Hospital Militar de Área de São Paulo. O segundo, em maio de 2021, comprou outras 20 próteses já mais caras, ao custo unitário de R$ 57,6 mil para o Hospital Militar de Área de Campo Grande (MS). O terceiro, em outubro de 2021, decidiu pela aquisição de mais 30 unidades, cada uma no valor de R$ 60,7 mil para o Hospital Militar de Área de São Paulo. Os gastos mostram, ao contrário do boicote de Paulo Guedes, que o Exército estimula os pequenos negócios e a relação com Bolsonaro oscila entre a tensão e o tesão. No mais se presta para nos tornarmos alvos de novas chacotas no mundo.
Não é o primeiro desfile da indecência desse destacamento militar. Há outros coices nas contas públicas. Um relatório do TCU, de junho de 2021, levado à CPI da Pandemia, mostrava que as Forças Armadas teriam usado indevidamente R$ 4,1 milhões dos recursos destinados ao enfrentamento à Covid-19 para outras finalidades durante a pandemia. Outros R$ 9,6 milhões possuíam “pendência de comprovação” de sua correlação com ações de combate ao novo coronavírus. A análise constava do relatório do ministro do TCU, Augusto Sherman Cavalcanti. Dentre os gastos considerados irregulares, estavam a reforma de imóveis, a compra de micro-ônibus e aquisição de itens como mochila, porta-celular, coletes e bandeira. As informações fizeram parte de manifestação preliminar da unidade técnica do Tribunal encaminhadas à época ao Senado.
Os alistados no bolsonarismo viraram pavilhões do desperdício. De mão amiga a mão leve foi um passo. Apenas em gastos supérfluos em 2020, foram mascados R$ 2,2 milhões em chicletes, torrados R$ 32 milhões com pizzas e refrigerantes e entornados R$ 15,6 milhões em leite condensado para as tropas. Aquele leite condensado que Bolsonaro disse para “enfiar no rabo da imprensa”. Esperemos que o Viagra tenha outros destinatários. A tropa marcha sobre o orçamento público despudoradamente. Enquanto a fome se alastrava, brasileiros faziam fila para carcaças e ossos, o Ministério da Defesa se refestelava com cerca de meio milhão de reais torrados com filé mignon e picanha. Seguia à risca o mantra da gestão do capitão: “Se eu puder dar filé mignon pro meu filho, eu dou”. Maminha com molho de mamata e picanha com a farofa que esfarela o Brasil. De acordo com o TCU, a vergonha verde-oliva também se esbaldou na compra de itens luxuosos e caros, como bacalhau, salmão, camarão e bebidas alcoólicas.
No Brasil a vergonha é verde-oliva. O Exército passou por outros vexames no esbanjamento do dinheiro público. A investigação feita pelo mesmo deputado do PSB no orçamento mostrou que foram adquiridas 80 mil unidades de cerveja. O estudo do parlamentar aponta um superfaturamento superior a 60%. No cardápio do rancho foram incluídos ainda bacalhau, uísque 12 anos e conhaque para o alto comando. Esses dados engrossam a farra de R$ 1,8 bilhões gastos para a ração da tropa. Os militares de pijama com função gratificada no governo ainda foram alisados com um “aditivo” além do teto salarial constitucional, como Braga Neto e Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno que, no teto duplex, viram crescer suas remunerações entre 58% e 69%. O aumento da liquidez foi autorizado por uma portaria lasciva de Paulo Guedes, que quer mais impostos, pobres fora da universidade, domésticas longe da Disney, dólar alto e até taxar livros.
A mão leve do braço forte também circulou desenvolta pelo Ministério da Saúde na gestão de Eduardo Pazuello, o símbolo maior da generalização do caos e da universalização da incompetência. Sob a gestão dele foi assinado o contrato de compra da Covaxin que obteve uma celeridade ímpar, superfaturamento de 50% em relação aos outros imunizantes e nenhuma dose entregue 5 meses após assinar o contrato de R$ 1,6 bi. O atravessador da Covaxin, cuja compra só foi anulada após as denúncias, é um caloteiro que vendeu quase R$ 20 milhões de remédios que não representava ao então ministro da Saúde Ricardo Barros, líder do governo e nunca entregou um comprimido sequer. O produtor do imunizante, diante de fraudes grosseiras, rompeu o contrato com a intermediária, a Precisa Medicamentos.
O general Pazuello, ícone da incompetência e homiziado no Palácio do Planalto esperando sua estreia na parada eleitoral, estrelou um vídeo dentro do Ministério da Saúde negociando vacinas da Coronavac pelo triplo do preço, com outro intermediário. Tudo gravado e dito por ele. Sorrateiro e dissimulado, Pazuello garantiu à CPI que não tinha encontros reservados com empresários quando era ministro. Não era papel dele, dizia. A infidelidade está provada na gravação de março de 2021, quando o Brasil já tinha contratado a Coronavac. O representante exclusivo no Brasil é o Instituto Butantan, que alertou o governo sobre o assédio ilegítimo, uma vez que possuía o monopólio da venda da vacina. Outro grupo de mercenários, alguns deles fardados, se excitou na aquisição dos imunizantes da AstraZeneca com estelionatários que não representavam vacina alguma. Foram inúmeros encontros, promessas, juras de amor e um reverendo professando intimidade com Bolsonaro. As mais altas patentes sanitárias do país, libidinosas com ‘pixuleco’ de US$ 1 por dose, viraram um balaio de gatos tapeados por vigaristas.
Na condução genocida do general de 3 estrelas, o número de casos e mortes explodiu na pandemia. Quando se alistou por lá em 15 de maio de 2020 eram 14,8 mil mortes e 218 mil casos de infecção. Ao passar o bastão, 10 meses depois, em 24 de março de 2021, eram 301 mil óbitos e 12,2 milhões de casos. Em Manaus, o desabastecimento de oxigênio matou brasileiros asfixiados, enquanto 70 milhões de doses do imunizante da Pfizer eram desprezadas e nem sequer deu-se respostas à empresa farmacêutica, a mesma fornecedora do Viagra comprado agilmente. Essa mesma alta patente de moral muito baixa recuou na compra de 46 milhões da vacina do Butantan. O general Pazuello foi humilhado publicamente pelo capitão e desfez a compra e amoleceu com um vexatório “um manda, outro obedece”. Se tivesse um mínimo de varonilidade, deveria ter pedido baixa imediatamente. Mas o poder, como se diz em Brasília, é afrodisíaco.
A continência ao negacionismo, além de envergonhar o Exército, condenou esse sobrenome à infâmia. Ele irá responder eternamente pelo morticínio de brasileiros sacrificados ante a inépcia fardada. General de Divisão, Pazuello bateu continência para o obscurantismo, condecoração comum na infantaria bolsonarista. “Nasci em 1963, não sei nem o que é AI-5, nunca nem estudei para descobrir o que é”. Ou é desfaçatez ou burrice.Foram 17 atos autoritários e ilegítimos. O notório AI-5 foi o auge da repressão. Lacrou o Congresso, baixou a censura, suspendeu o habeas corpus e proibiu reuniões. A “mão amiga” disparou contra seu próprio povo e os quartéis espalharam torturas, mortes, exílios, desaparecimentos e outras atrocidades. Três dias após o falso testemunho na CPI, em maio de 2021, Pazuello desfilou em um comício lambendo as botas do capitão. Militar da ativa é proibido de participar de atos políticos. A anarquia foi óbvia e a disciplina militar brochou. O antes zeloso comando do Exército capitulou ao estender a mão amiga para a indisciplina e não punir Pazuello pela transgressão. A impotência é histórica e vergonhosa.
Outra referência emblemática de virilidade dos comandantes das nossas Forças Armadas é o general Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro da Casa Civil. Gravado em uma reunião que pensava ser reservada, o general disse que tomou a vacina contra a Covid-19 “escondido” e que tentaria convencer Jair Bolsonaro a se imunizar também: “Tomei escondido, né, porque a orientação era para todo mundo ir pra casa, mas vazou. Não tenho vergonha, não. Eu tomei e vou ser sincero. Como qualquer ser humano, eu quero viver, pô. Se a ciência e a medicina tá (sic) dizendo que é a vacina, né, Guedes, quem sou eu para me contrapor? Estou envolvido pessoalmente, tentando convencer o nosso presidente. Nós não podemos perder o presidente para um vírus desses. A vida dele, no momento, corre risco”. Difícil compreender a lógica da amarelada. Sabe que a vacina, renegada pelo capitão, é proteção da vida, mas ainda assim serve no destacamento do obscurantismo com subserviência.
A vergonha precisa ser pública e historiada. Ela extrapolou no depoimento autobiográfico do general Villas Bôas, que assumiu ter feito uma pressão ilegítima sobre STF. O ex-comandante do Exército narrou uma versão para biografia, segundo a qual, em abril de 2018, o Alto Comando teria tramado postagens com ameaças a Suprema Corte para não conceder um habeas corpus que poderia ter impedido a farsa da prisão do ex-Presidente Lula. A prisão se consumou por 6×5 votos e Lula foi riscado da cédula eleitoral, abrindo a trincheira do fascismo. O presidente do STF, Luiz Fux, disse ter uma mensagem do ex-ministro da Defesa desautorizando Villas Bôas: “foi declaração isolada do ministro Villas Bôas no momento de fazer sua biografia, não há nenhuma concordância das Forcas Armadas em relação a pressão sobre o Supremo”.
Ao fazer considerações sobre os expedicionários brasileiros na segunda guerra General Braga Neto expediu uma nota que soou como ameaça: “A cobra fumou e, se necessário, fumará novamente”. Mesmo padrão do general Augusto Heleno na nota golpista de 22/5/2020. Ao ser cogitada a apreensão do celular do presidente, em 22 de maio, diligência rotineira, o general do pijama listrado, Augusto Heleno, chiou em mais uma fanfarronice golpista: “O pedido de apreensão do celular do Presidente da República é inconcebível e, até certo ponto, inacreditável. Caso se efetivasse, seria uma afronta à autoridade máxima do Poder Executivo e uma interferência inadmissível de outro Poder, na privacidade do Presidente da República e na segurança institucional do País. O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.
Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Insegurança Institucional, enverga outra farda manchada pelo engajamento no bolsonarismo. Egresso da cavalaria, revelou-se um cavalariço acrítico. Um sargento traficou cocaína no avião presidencial e ministros fraudaram currículo sob sua vigilância dispersiva. Além da nota intimidadora, apresentou-se em ato golpista, deu murro em mesa, é adepto de segredos seculares para eternizar a intimidade pecaminosa de Bolsonaro e ignorou a gravidade da reunião ministerial de 22 de abril de 2020, onde registrou-se uma sucessão de barbaridades, entre elas a prisão dos “vagabundos” do STF. O pagode comparando o centrão com ladrão foi um anticlímax vexatório. Após Alemanha e Noruega cortarem os fundos da Amazônia, em represália ao desmatamento, a reação do general: “Vão procurar sua turma”. Ele também frequenta as redes sociais escudando notas militares, incensando direitistas, insultando adversários e confrontando notícias. Parece meio ocioso e desatento.
A farda é também uma farra nepotista. A Casa Civil, quando chefiada pelo general Braga Neto, autorizou a nomeação da filha dele para uma gerência na Agência Nacional de Saúde. O recuo só veio depois da mina terrestre nepotista explodir no noticiário. A filha de Pazuello emplacou no governo do Rio de Janeiro. A filha de Eduardo Villas Bôas ganhou um posto na pasta da ministra Damares. O filho do vice Hamilton Mourão teve 2 promoções em 6 meses no Banco do Brasil. Carlos Bolsonaro, que comanda o gabinete do ódio ironizou: “Nova promoção! Parabéns”. O casamento de Bolsonaro com o humilhado general Mourão, com ou sem aditivo, parece ter chegado ao limite do desgaste e caminha rumo ao fim. A preferência para a vaga de vice deve recair sobre Braga Neto, a nova concubina fardada e candidato ao Viagra.
A caserna é uma caverna obscurantista, incompetente e golpista sob o rebenque de Bolsonaro. Na ativa o capitão jamais demostrou respeito pelos valores militares. As digitais desonestas de uma legião de altos oficiais das Forças Armadas estão esparramadas em investigações múltiplas, na CPI, no Ministério Público, no TCU e na PF. Agora entram, definitivamente, para o inventário da escória ao comprarem próteses penianas, Viagra, Finasterida, reservarem mais de meio milhão de reais para botox e outros valores para lubrificantes íntimos. Não compreendem minimamente a realidade que os cerca. Possuem um inexplicável sentimento de donos da Nação e o monopólio inalienável do que pensam ser o patriotismo. Ninguém é melhor do que eles ou incorruptível como eles. Mas a realidade é nua, dura e “imbrochável”. Não existe crime sem rastro. As denúncias escorrem viscosas em torno de setores das Forças Armadas e engrossam as malversações em série no Ministério da Educação.
Jair Bolsonaro coleciona fracassos e, por isso, busca se proteger da “brochada” na fortificação do “braço forte, mão amiga” e aposta na solidariedade verde-oliva para delirantes quarteladas. Para toda crise ele tem a trapaça padrão da vassalagem fardada: generalizar. O capitão usa recorrentemente o nome das Forças Armadas, que são expostas à vergonha e não reagem como, por exemplo, no desfile de cacarecos bélicos no dia da votação da cédula impressa. Nos EUA, a maior autoridade militar, general Mark Milley, se desculpou por fotos ao lado de Donald Trump: “Eu não deveria ter estado lá…Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna. Como oficial da ativa uniformizado, foi um erro com o qual aprendi…Devemos defender o princípio de um Exército apolítico que está tão profundamente enraizado na própria essência de nossa república…Isso leva tempo, trabalho e esforço, mas pode ser a mais importante coisa que cada um de nós faz a cada dia.”
Bolsonaro comanda uma tropa de fracassados. Assim como o último presidente egresso da caserna, João Figueiredo, tem uma índole gelatinosa e é um falso moralista. As patentes são distintas, mas as condutas de ambos são convergentes: toscos, radicais, despreparados e disparatados. Uma proteção para encobrir inferioridade intelectual e compreensão turvada da realidade. O tom coloquial e vulgar de ambos os aproxima. Figueiredo entrou para história por preferir “o cheiro de cavalos ao do povo”. Ao receber um telegrama de professores para discutir demissões praguejou: “vão à merda”. O cavernícola Jair Bolsonaro é pródigo em ofensas, escatologias, ameaças e xingamentos. Exceto a família, milicianos e o centrão, todos são escoiceados. Bolsonaro é uma falsa ilusão de ética. À exemplo do “prendo e arrebento” de seu preceptor Figueiredo, o capitão prometeu “botar no pau de arara” todos envolvidos com corrupção. Não o fez. Pelo contrário, prestigiou. Os envolvidos com corrupção estão governando ao lado e na intimidade dele.
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