..::data e hora::.. 00:00:00

Artigos

A história do 8 de março de 1857 que nunca existiu e entrou para o Dia Internacional das Mulheres

A história do 8 de março de 1857 que nunca existiu e entrou para o Dia Internacional das Mulheres

O Dia Internacional das Mulheres é um marco na luta das mulheres por direitos civis e trabalhistas. Mas a história começa na década de 1900, e não 43 anos antes como muitos acreditam.

Apesar de bastante difundido, o incêndio provocado em 8 de março de 1857 para impedir uma greve de funcionárias – e que teria matado 129 operárias carbonizadas que estavam presas na fábrica Cotton – nunca aconteceu, diz um artigo do Parlamento Europeu. Também é mentira a história da primeira greve promovida por mulheres naquele ano, como alguns sites descrevem. Ao menos, os jornais da época não noticiaram o fato, de acordo com reportagem do Washington Post.

O que havia de fato, por volta de 1908, era uma grande inquietação e debate crítico em consequência da repressão e desigualdade de gênero, o que fez com que 15 mil mulheres marchassem pela cidade de Nova York exigindo menos horas de trabalho, melhores salários e direito de votar.

Esse movimento levou à criação do Dia Nacional da Mulher nos Estados Unidos que foi celebrado em 28 de fevereiro do ano seguinte e durou quatro anos. A informação é da comunidade International Women’s Day, citando uma declaração do Partido Socialista da América.

Esse foi o gancho para Clara Zetkin, líder no Partido Social Democrata na Alemanha, apresentar a ideia de um Dia Internacional da Mulher, durante a segunda Conferência Internacional de Mulheres Trabalhadoras, em 1910.

Ela propôs que houvesse uma data para pressionar a sociedade a atender as demandas das mulheres em todo o mundo. Apesar de a proposta ter sido aprovada por unanimidade, ela não foi adotada em todos os lugares.

Apenas Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça celebraram a data em 19 de março do ano seguinte, com mais de 1 milhão de pessoas tendo participado de comícios. Mesmo assim, foi o suficiente para estabelecer o novo marco na luta das mulheres.

O verdadeiro incêndio na fábrica em NY

Menos de uma semana depois, em 25 de março, um trágico incêndio na cidade de Nova York tirou a vida de 146 trabalhadoras da indústria Triangle Shirtwaist Company, sendo que a maioria tinha origem italiana e judia. Muitas delas não conseguiram fugir porque as portas estavam trancadas para evitar que fizessem pausas não autorizadas.

Este incidente teve um grande impacto na sociedade, e mais de 100 mil pessoas participaram da marcha fúnebre em homenagem às vítimas.

Além disso, a tragédia chamou atenção para as condições de trabalho e para a legislação trabalhista, em especial nos Estados Unidos, tema que se tornou foco dos eventos subsequentes do Dia Internacional da Mulher.

Em 1913, a data foi celebrada pela última vez no último domingo de fevereiro. Isso porque, durante os comícios organizados para discutir as condições de gênero, decidiu-se que, a partir do ano seguinte, 8 de março seria o marco para todos os países que seguiam o calendário gregoriano.

Em 1914, mulheres de toda a Europa saíram às ruas em campanha contra a Primeira Guerra Mundial. Em especial, houve uma marcha em apoio ao sufrágio feminino em 8 de março, e Sylvia Pankhurst foi presa em frente à estação de Charing Cross a caminho de fazer um discurso em Trafalgar Square.

Na Rússia, as mulheres também tomaram frente nos protestos e iniciaram uma greve por “Pão e Paz” em 1917, em resposta à morte de mais de 2 milhões de soldados na guerra. As paralisações começaram em 23 de fevereiro, no calendário juliano que até então estava em uso no país. A data correspondia a 8 de março no calendário gregoriano. Esse movimento acabou forçando o czar a abdicar do trono, e o governo provisório concedeu às mulheres o direito a voto.

Apesar de décadas de luta por igualdade e direitos, foi somente em 1975 que a Organização das Nações Unidas incluiu o Dia Internacional da Mulher em seu calendário.


Natália Flach, jornalista

Fonte: https://valor.globo.com/opiniao/