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A fé dá sentido à vida

“Cheguei ao auge do sucesso no mundo dos negócios. No entanto, além do trabalho, tenho pouca alegria

. Tudo se empalidece e fica sem sentido diante da morte iminente. Coisas materiais perdidas podem ser encontradas. Mas há uma coisa que nunca pode ser encontrada quando está perdida: VIDA!” (Palavras atribuídas ao fundador da Companhia americana Apple, Steve Jobs, na fase terminal de sua vida).

O que alguém poderia dá em troca de sua vida? Este artigo objetiva abordar um vínculo que une a finalidade da vida do ser humano à missão de Jesus Cristo e à congregação de pessoas na fé.

O ser humano foi criado para a existência terrena, mas destinado a uma finalidade espiritual.

A existência terrestre de toda criatura tem sua consistência na liberdade mesma de Deus. A criação é ato da liberdade de Deus! Ela é dom da graça divina. Na criação, o dom consiste no ato que Deus pôs o “ser” de todo ente. A filosofia ensina que o ser é o fundamento ontológico que sustenta a existência de todo vivente, de forma que nada acontece fora dele e nada do que constitui a vida escapa à sua propriedade. O ser humano não é a causa nem a origem de sua existência. “O eu que tanto amo não é senão presente da bondade do criador (...)”, diz o teólogo Henri de Lubac.

É justamente na sua condição de ser no mundo que cada pessoa sente o profundo e absoluto desejo de realização. Em termos cristãos, esta aspiração latente em cada ser humano é entendido como busca do infinito.

Seguindo Tomás de Aquino, o pensamento cristão manifestou frequentemente este “desejo do infinito” próprio da vocação humana como a visão de Deus. Por isso, ver a Deus, não se reduz aos limites da religião. É uma exigência existencial que deriva do princípio da existência de cada “ser”. Pertence, constitutivamente, à essência do espírito humano.

A Igreja manifesta o “já”, e também o “ainda não” daquilo que o almeja o espirito human.

A Igreja não é exclusivamente uma realidade espiritual. Ela é também histórica. Sua origem histórica se enraiza tanto nos atos e nas palavras de Jesus de Nazaré como no contexto de sua morte, ressurreição e ascensão. A Páscoa de Cristo é o principio de uam realidade nova: a unidade dos homens em Cristo ressuscitado. Ela representa o evento escatológico da passagem do tempo antigo para um tempo novo. Tudo isto está prometido nas profecias do Antigo Testamento: reunião universal dos povos e realização das aspirações humanas.

Todavia, muito se disse : Jesus não veio fundar igreja, mas anunciar o Reino de Deus! O Reino de Deus anunciado por Jesus é a realização da aliança entre Deus e o seu povo. Segundo os evangelhos, o Reino de Deus é uma entidade futura, e ao mesmo tempo, uma realidade presente, por que o Reino que Jesus anuncia em palavras já se faz presente, irrompe no mundo, através de seus atos.

Assim, ao mesmo tempo que o Reino já é uma realidade presente, atual, ele se situa na expectativa de sua realização, escatológica, definitiva e plena. É nesse ponto que se inscreve a missão e a natureza da Igreja: Ela é o resultado e a portadora da continuidade da missão de Jesus ao longo da história.

Não podemos deixar de considerar que o contexto religioso brasileiro é afetado profundamente pelas transformações culturais e pelo pluralismo de religião, manifestando-se, às vezes, num sincretismo religioso que se satisfaz na defesa de uma vida ética inspirada nos valores dos evangelhos, mas independente de toda tradição religiosa.

Ademais, a noção de igreja, em nossos dias, é tida como realidade paradoxal. De um lado, ela é entendida como um “reservatório de graça”, onde cada um poderia se oferecer “os benefícios espirituais”, de acordo com a sua necessidade; de um outro lado, tenta-se reduzí-la à uma instituição engessada em uma visão ultrapassada, sem relação nem pertinência com a vocação e a caminhada humana em busca de realizar suas aspirações profundas.

Entretanto, para o teólogo Henri de Lubac, é pela capacidade de satisfazer as aspirações humanas, revelando o sentido e o propósito de vida pela missão de reunir a humanidade em um só corpo, que a fé em Cristo ilumina a existência humana e mostra a comunidade, Eclésia (congregação), como lugar onde o Cristo se une à Igreja.

A Aliança estabelecida em Cristo passa pela recuperação da união com Deus e da unidade do ser humano com seus semelhantes. Cristo comunicou sua vida ao mundo. Esta vida espiritual comunicada por Ele visa a unidade daqueles que a professam.

“Tu formaste os meus rins, tu me teceste no seio materno. Eu te celebro por tanto prodígio, e me maravilho com tuas maravilhas!” (Sl 139, 15)

*Padre Manoel J. M. Costa é Reitor da Catedral Nossa Senhora de Nazaré