Preservadas suas mordomias na reforma da Previdência, assim como os marajás do Judiciário e do Congresso
, os militares agora vão receber novos agrados do governo, como faz Maduro na Venezuela para garantir o poder.
Para que eles dariam um novo golpe militar, se já estão no poder com um capitão laranja, aposentado do Exército aos 33 anos, que se cercou de generais?
“Em meio a cortes, Orçamento destina R$4,7 bi de vantagens para militares”, informa a Folha desta quarta-feira na página A17, em reportagem de Gustavo Patu.
Inventaram agora um novo penduricalho chamado “adicional de disponibilidade”.
Vem a ser um gatilho salarial para “dedicação exclusiva e prontidão permanente dos profissionais”.
Ué, eu achava que já era assim pela própria natureza do ofício. Ou os militares antes podiam se dedicar a outras atividades em horário de trabalho?
Médicos, bombeiros e repórteres também estão sempre em “prontidão permanente” e, ao que me consta, não ganham nada a mais por isso.
Além disso, eles vão ganhar também um “adicional de habilitação” quando passam por algum curso de qualificação. Que beleza… Vão todos virar PhD…
Tem sentido ganhar a mais para estudar? E o que eles fazem o resto do tempo além de cuidar dos próprios quartéis?
Pelos cálculos oficiais, não muito confiáveis, a nova previdência própria dos militares vai economizar R$ 97 bilhões nos próximos 10 anos.
Em compensação, a melhora das carreiras, com esses adicionais e outros privilégios vai custar aos cofres públicos mais R$ 87 bilhões no mesmo período,
Mas, no próximo ano, o saldo já vai ficar negativo, com um deficit de R$ 43,5 bilhões na previdência dos militares.
Enquanto isso, o facão da reforma da Previdência para os trabalhadores civis, que está para ser aprovado no Senado, vai cortar mais de R$ 800 bilhões em benefícios. É justo isso?
Como não há nenhuma guerra à vista (a última foi contra o Paraguai, nos tempos do Duque de Caxias) é lícito perguntar se estes gastos bilionários ainda se justificam.
Será que algum parlamentar vai ter coragem de levantar este tema na discussão sobre o Orçamento para 2020?
Para se ter uma ideia do que significam estas novas vantagens na carreira militar, o valor seria “suficiente para recompor, com sobras, as verbas em obras para estradas e bolsas da Capes, entre outras combinações possíveis”, informa a reportagem da Folha.
Bolsas no ensino superior, por exemplo, serão cortadas pela metade no ano que vem: de R$ 2,7 bilhões para R$ 1,4 bilhão.
A rubrica “investimentos” sofrerá o maior corte: de R$ 35,8 bilhões para R$ 19,5 bilhões, menos da metade do deficit previdenciário dos militares previsto para 2020.
Com pessoal ativo e inativo, o Ministério da Defesa é o que mais gasta no governo: R$ 81,1 bilhões por ano.
É o único caso de elevação da despesa por iniciativa do governo, o que mostra bem quais são as prioridades para o ex-capitão Jair Bolsonaro: atender aos interesses dos seus colegas de farda.
Afinal, nos seus 30 anos de deputado do baixo clero, ele só fez isso como líder sindical dos militares.
Pode faltar dinheiro para tudo, mas o deles está sempre garantido.
E tudo isso é tratado com a maior naturalidade pelo Congresso, sem nenhuma contestação da sociedade civil.
Em breve, estaremos todos batendo continência no Brasil verde-oliva.
Vida que segue.
Repórter desde 1964