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A CPI expôs a caixa da PRF

A CPI expôs a caixa da PRF

A Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou a ação dos golpistas no 8 de janeiro expôs uma das maiores anomalias do governo de Jair Bolsonaro: o desvirtuamento da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Sabia-se que no dia do segundo turno ela foi usada para bloquear eleitores nordestinos, sabia-se também que uma polícia rodoviária era usada em operações que resultaram em chacinas, mas a CPI mostrou mais.

O ex-capitão que prometia acabar com a indústria das multas e mandou desligar radares de rodovias, elevou os gastos com a PRF de R$ 138 milhões para R$ 809 milhões em 2022. A PRF comprou veículos blindados e softwares de vigilância eletrônica.

Uma mesma empresa, Combat Armor, criada em 2019, venceu três pregões e faturou cerca de R$ 33 milhões. Em dois deles, era a única concorrente.

Criada em 2011, nos Estados Unidos, a Combat Armor ficou inativa entre 2013 e 2018, estabelecendo-se no Brasil em janeiro de 2019, dias depois da posse de Bolsonaro. Ela dizia ter uma tradição no ramo, tendo blindado mais de 5 mil veículos em 30 países. A CPI não achou registro desse desempenho. Seu principal executivo havia sido condenado por fraude em Dubai e tinha o nome na lista de procurados da Interpol. A Combat Armor brasileira fechou suas portas no primeiro semestre de 2023, depois da posse de Lula.

A Armor sabia escolher seus consultores. Em 2023 ela pagou R$ 39 mil à empresa do chefe de gabinete do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. Numa coincidência, essa empresa funcionava no mesmo endereço de Florianópolis de outras três. Duas delas receberam R$ 90 mil da Armor. A terceira, Victory Consultoria, pertence ao então diretor da PRF, Silvinei Vasques. Noutra coincidência, todas têm o mesmo contador. Numa das discutidas decisões monocráticas, o ministro Nunes Marques, do STF, suspendeu a quebra do sigilo bancário do doutor Silvinei Vasques.

Diz o relatório da CPI:

“Antes da decisão proferida pelo ministro Nunes Marques, do STF, (...) tinham sido constatadas informações muito relevantes no bojo da análise dos levantamentos de sigilo de Silvinei Vasques, inclusive com relação a Jair Bolsonaro. Contudo, em respeito à decisão judicial, embora com ela não se concorde, opta-se por não exibir todos os relevantes achados no presente relatório, mas se sugere que as autoridades policiais e judiciais competentes procedam à devida análise dos dados do levantamento de sigilo de Silvinei, para que possam aprofundar adequadamente as investigações.”

O STF decide

Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a União, os estados e os municípios devem fornecer transporte gratuito aos eleitores nos dias de pleito.

A decisão decorre da demora do Congresso para legislar sobre o assunto, e o ministro Alexandre de Moraes demonstrou que o custo dessa gratuidade é irrisório.

Para o bem ou para o mal, o Legislativo e o Judiciário são donos de seus tempos. A medida determinada pelo Supremo é mais um capítulo da disputa pela demarcação dos territórios de cada um.

O último episódio dessa disputa ocorreu na semana passada, em Paris, envolvendo o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ministro do STF Gilmar Mendes, e cada um defendeu sua posição.

Como cantava Cole Porter, que amava a cidade em todas as estações: “Eu amo Paris no outono”.

Metamorfose diplomática

Metamorfose ambulante na política, Lula mostrou-se camaleônico na diplomacia. Na semana em que rejeitou a proposta americana para adiar a apresentação de um projeto de resolução junto ao Conselho de Segurança da ONU, ele aceitou a vinda de 246 militares americanos para exercícios de treinamento na Amazônia.

Para os americanos, é um bom negócio, pois desde o fim da guerra do Vietnã sua experiência numa selva diminuiu. Já a tropa brasileira, é uma das mais experientes do mundo.

No início do ano tropas francesas fizeram exercícios conjuntos com brasileiros na Guiana.

A rapidez dos bandidos

De um conhecedor da bandidagem do Rio:

“As oito metralhadoras encontradas pela polícia do Rio podem ter sido devolvidas. Nesse caso, quem as devolveu não queria encrencas maiores. No século passado, traficantes de cocaína de São Paulo mandaram uma encomenda para o Rio, acompanhada por uns quilos de crack, como brinde. A quadrilha carioca devolveu o crack.”

Anos depois esse protocolo foi rompido.

(Treze metralhadoras continuam no mercado.)

Prefeitura do Rio

Se o general da reserva Walter Braga Netto desistir de disputar a prefeitura do Rio, o bolsonarismo carioca corre o risco de passar à condição de azarão. Com Braga Netto, que deveria explicar os resultados medíocres da sua intervenção na segurança do Estado, a derrota seria apenas possível. Sem ele, será provável.

Netanyahu x Netanyahu

O jornal israelense “Haaretz” faz oposição ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e, na semana passada, lembrou suas palavras em 2007, quando quem estava na oposição era ele:

“Você não pode ter um primeiro-ministro num país como Israel se ele não tem algum tipo de habilidade para conceber um conceito de diplomacia e segurança.”

O mau desempenho das forças de segurança israelenses no dia 7 de outubro, quando o país foi atacado pelos terroristas do Hamas, resultou em um desconforto interno. Segundo uma pesquisa do “The Jerusalem Post”, 56% dos entrevistados achavam que, depois da guerra, ele deveria renunciar.

Zema é o velho com roupa nova

Era uma vez uma coisa chamada Partido Novo. Na maré bolsonarista de 2018 ele se elegeu governador de Minas Gerais e no ano passado reelegeu-se.

Ele acaba de dizer que “o carro elétrico é uma ameaça aos nossos empregos”.

Assim como os carros a gasolina eram uma ameaça aos fabricantes de carruagens e o navio a vapor ameaçava os fabricantes de velas.

Outubro de 1963

Na quarta-feira, completam-se 60 anos do dia em que o Federal Bureau of Intelligence avisou ao seu agente James Hosty, que Lee Oswald esteve no México e visitou a embaixada da União Soviética. (Oswald queria um visto russo para chegar a Cuba, mas não o conseguiu: “Ele nos deu dores de cabeça em várias ocasiões.”)

Hosty era o agente do FBI que vigiava o jovem ex-fuzileiro naval americano que havia vivido na URSS de 1959 a 1962. Ele sabia que Oswald tinha voltado para os Estados Unidos, mas havia perdido seu rastro desde que ele saíra de Nova Orleans, em agosto.

Noutra ponta das tramas da época, no dia 7 de setembro, o major Rolando Cubela, um combatente da revolução cubana, contactou a Central Intelligence Agency em Porto Alegre. Ele contou que pretendia matar Fidel Castro.

No domingo que vem, completam-se 60 anos do dia em que Desmond FitzGerald, chefe da seção de Assuntos Especiais da CIA, embarcou para Paris, onde se encontraria com Cubela.

Elio Gaspari, jornalista e escritor

Fonte: https://oglobo.globo.com/