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A condenação aos golpistas une os brasileiros

A condenação aos golpistas une os brasileiros

A esmagadora maioria dos brasileiros condena os ataques golpistas. Que os inimigos da democracia eram uma minoria já era sabido. Na quarta-feira, o Datafolha publicou uma pesquisa de opinião realizada em todo o Brasil que deu uma dimensão da pequenez desse grupo. Nove em cada dez (93%) dos entrevistados dizem ser contra as invasões realizadas em Brasília no domingo. Não mais do que 3% afirmam ser a favor. Entre os que votaram em Jair Bolsonaro, o apoio aos golpistas não passa de 10%.

Os adjetivos mais usados para classificar os invasores são vândalos, terroristas, irresponsáveis, criminosos e baderneiros. Na opinião de 77%, haverá punição para aqueles que estão sendo identificados. O mesmo percentual acredita que os financiadores deveriam ser presos.

A sustentação popular à democracia serve como esteio às instituições responsáveis por garantir o cumprimento da Constituição. Sem o apoio do povo, a democracia seria uma vítima frágil para os golpistas. Não é. Para a sociedade brasileira, ficou claro que o embate diante do país é entre quem acredita no sistema democrático e quem quer a sua destruição. A disputa não se dá mais entre os apoiadores desse ou daquele candidato. Isso foi em outubro.

Em momentos de grave crise, é indispensável relembrar o básico. A democracia não garante a eleição dos melhores candidatos. Desde que os brasileiros reconquistaram o voto direto, o país teve governos bons, medianos e ruins. O que a democracia assegura é a resolução pacífica das divergências e o direito dos eleitores de fazer novas escolhas. É essa valiosa conquista que agora está sob ataque.

A raquítica minoria radical ainda precisa entender que não existe democracia sem perdedores. Voltar à oposição é parte inescapável do jogo. Quem se recusa a reconhecer uma derrota é, independentemente da ideologia, um autoritário, mesmo que jure ser o contrário. Qualquer um pode dizer ser um democrata. O nome oficial da Coreia do Norte é República Popular Democrática da Coreia. O que conta é o que cada um faz.

Em sociedades livres, o conflito é inevitável. Afinal, a democracia é baseada em liberdade e, por isso, funciona como palco onde diferentes pontos de vista são defendidos. Há, porém, regras para que funcione. Como ficou evidente a todo o país, os golpistas que assaltaram Brasília atropelaram todas elas.

Como chegaram a esse ponto? Os radicais absorveram de forma acrítica o discurso populista e enganador de Jair Bolsonaro. Se ele é a voz do “verdadeiro” povo, representante fiel da moralidade e da justiça, se fala em nome de Deus e da pátria, como pode ter perdido a eleição? A resposta falaciosa para essa contradição aparente são as teorias conspiratórias contra o sistema eleitoral. Daí para o pedido de intervenção militar e a violência é um pulo.

Todas essas considerações soam como platitudes, comparáveis à preleção de professor de jardim de infância ensinando alunos a respeitar a fila. O fato de ser necessário ressaltá-las demonstra o nível de descolamento da realidade da minoria radical bolsonarista. Em nome da democracia, esse delírio coletivo deve ser estancado e punido.

Editorial do jornal O Globo de 13012023

Fonte: https://oglobo.globo.com/