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A bioeconomia no velho Brasil

Quando Marilyn Monroe, em 1952, respondeu à Life Magazine que a única coisa que vestia para dormir eram cinco gotas de Chanel 5, a palavra bioeconomia ainda não havia entrado na moda.

Enquanto cantava “Diamonds Are Girl’s Best Friends”, não sabia ela que o perfume francês preferido pelo jet set levava em sua fórmula a essência do pau-rosa, uma árvore rara da Amazônia.

O mesmo caso viria a demonstrar que, na bioeconomia, assim como em outros segmentos econômicos, não há lugar para amadores. Em decorrência da falta de regularidade no fornecimento do óleo, Chanel parou de usá-lo alguns anos depois.

Outro exemplo de naufrágio no mercado de produtos extraídos da Amazônia havia sido também um dos maiores sucessos da floresta – a borracha natural. Depois de fazer a fortuna e o desenvolvimento de empreendedores e cidades, a seringueira foi “pirateada” por ingleses, que levaram suas mudas para a Ásia.

O investimento em técnicas de cultivo em grande escala resultou em vantagens competitivas para a borracha inglesa que ultrapassaram a produção ainda extrativista brasileira.

Especialistas têm insistido no prognóstico de que o futuro da produção de bens, serviços, riqueza e renda está na tecnologia. Não estamos falando apenas das maravilhas digitais do Vale do Silício que povoam as mentes da juventude.

Tecnologia será o fator decisivo de êxito desde o agronegócio até a indústria espacial, passando pela bioeconomia, seja na genética das sementes, seja nos sistemas de comunicação.

Nesse cenário, é frequente ouvir o Brasil ser classificado como potência bioeconômica, o que soa como uma reedição da promessa de “país do futuro”. Contudo, a exemplo do que acontece em outros mercados, a bioeconomia carece de respostas a três perguntas iniciais.

– Quais empresas vão querer entrar nesse negócio (e como)?

– Que capacidade o Estado vai ter de criar as condições favoráveis?

– De que maneira os trabalhadores e os pequenos empreendedores vão conseguir participar do jogo?

As discussões em torno de bioeconomia, enquanto portal para o desenvolvimento do Brasil e da Amazônia, tendem a navegar entre a abstração e a promessa. O desafio será enorme para um país que optou pela desindustrialização em favor do neoextrativismo, e despenca no ranking global de desempenho econômico e social.

O simples fato de a Amazônia e suas riquezas naturais se encontrarem no território brasileiro não é suficiente para definir o país como uma “potência”. Nem mesmo David Ricardo se arriscaria a encaixar tal hipótese em sua teoria das vantagens comparativas.

Bioeconomia engloba produtos e serviços de segmentos sofisticados, como alimentos, bebidas, bioplásticos, medicamentos, vacinas, insumos químicos, combustíveis, com repercussão em setores, como educação, seguros, fundos de investimentos, transportes, infraestrutura, entre tantos outros.

É fácil perceber, considerando-se o grau de complexidade do tema, que a competitividade do Brasil no setor não será obtida por meio do barateamento de fatores baseado em desmatamento, invasão de terras indígenas, sonegação e garimpo ilegal.

Da mesma forma, não se pode continuar apostando no boom de commodities agrícolas e minerais ocorrido no fim do século XX. Bioeconomia é sinônimo de diversificação produtiva, associada à utilização sustentável, científica, criativa e competitiva de recursos naturais.

Os determinantes do sucesso parecem permanecer os mesmos que valiam no tempo de “O Pecado Mora ao Lado” – investimento público, regras claras, Estado soberano, empresas dinâmicas, pessoas saudáveis, seguras e qualificadas.


Felipe Sampaio é cofundador e colaborador do Centro Soberania e Clima (CSC) e ex-secretário-executivo de Segurança Urbana do Recife (2019-2020);

Fonte: https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/artigos