Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
(Versos Íntimos – Augusto dos Anjos)
O conjunto de diálogos entre os membros da chamada Força Tarefa Lava Jato publicados pelo jornal Folha de S. Paulo (em pareceria com The Intercept), hoje, 27.08.2019, no escândalo da #Vazajato, é de longe o mais cruel e abjeto, dos já revelados.
Os procuradores da República que atuam na operação e outros que não atuam diretamente, tratam de maneira sórdida as mortes de familiares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com baixos instintos e profundo desrespeito humano, de forma muitas vezes jocosas e perversa, tramam como obstar a ida de Lula aos velórios de seus entes mortos.
Ironizam, por exemplo, a internação de D. Mariza Letícia como “queima de arquivo”, por vezes como se a doença dela venha das “puladas de cerca do marido”, ou que estado dela era “vegetal”, não servindo mais nem para testemunhar ou ser Ré, aliás, jamais teve decretada sua absolvição nos processos, nem mesmo os diálogos privados dela, foram desentranhados do processo.
A morte de Vavá, o irmão mais velho do ex-presidente, traz uma discussão sobre a possível ida ao velório e enterro, e é vista não como um direito, mas como a oportunidade de Lula fugir, tabulam soluções para impedir e a todo momento a morte é tratada com desdém, a dor e o Direito são secundados e a questão central era como impedir a presença de Lula no velório e enterro, como de fato não pode ir.
A morte do neto de Lula, o pequeno Arthur, os procuradores aprofundam seus ódios e suas falas perversas, propõem a “solução Toffoli”, que era levar o cadáver até um local onde Lula o visse e não aparecesse para ninguém que estava velando o neto, assim, ele, Lula, não se vitimaria, não aparecendo publicamente, depois quando foi, pensam em puni-lo pelo suposto “discurso político”.
Em todos os momentos, os procuradores da República, servidores públicos concursados, muito bem remunerados, formados em excelentes faculdades, a maioria públicas, uma espécie elite do serviço público, tratam Lula como um inimigo público, sem direitos, como os demais presos, mas riem que mesmo que não lhe impedissem a ida aos velórios, não teria a simpatia da população por ser quem é, na visão distorcida dos procuradores.
Os direitos humanos e legais garantidos a qualquer preso, celebração dos seus mortos, não poderiam ser concedidos a Lula, a depender desses procuradores, que além de desumanos e de suas perversões, também revelam como a banalização do mal está introjetada na sociedade.
São repugnantes os diálogos, as chacotas, que não condizem com a Ética, o zelo profissional, o respeito à Constituição Federal, que tem entre seus princípios fundamentais a dignidade humana. Atentam contra o estatuto do servidor público que fala em tratar com Urbanidade as pessoas, entre os deveres. É um dos momentos mais tristes dos últimos anos.
Mesmo sem previsão legal, os procuradores aplicam a Lula, o Direito Penal do Inimigo, sem mais nem menos. Incrível a baixa capacidade de indignação. Mesmo com tudo isso, silêncio. É por que é Lula a vítima desse ultraje? O dia da infâmia, é hoje. Até quando, tolerar?
Jornalista
Fonte: arnobiorocha.com.br