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A 3ª Via no Brasil

O surgimento de uma 3ª via nas eleições presidenciais no Brasil vem da esperança de que algo possa acontecer dentro do eleitorado, algo hoje imprevisível, já que os candidatos da 3ª via não apresentam projetos alternativos para o país que possam chegar ao eleitorado. Provavelmente, mais uma vez será prometida a solução da educação, saúde e segurança, na trilogia do discurso fácil sem conteúdo específico, com pouca ressonância no eleitor.

O surgimento de uma 3ª via em processos eleitorais requer duas condições. A primeira, que os paradigmas políticos antagônicos estejam exauridos, o que não é o caso. A segunda, que o candidato da 3ª via se sobressaia com proposta genuína, identificada no vácuo do colapso dos paradigmas existentes, de difícil elaboração no cenário político que se aproxima.

Nas eleições, quando dois polos captam 1/3 ou mais do eleitorado, ambos se garantem no 2º turno. Isto porque, nas eleições brasileiras, cerca de 20% do eleitorado vão para o voto branco, nulo, e abstenção, restando 80% de votos válidos. Lula e Bolsonaro deverão contar com o mínimo de 30% dos votos totais, para cada um deles. Dos 80% dos votos válidos restantes, sobram então somente 20% para a disputa dos candidatos da 3ª via, pouco espaço diante da desagregação existente entre os que se propõem como alternativas. E Lula excederá, em muito, os 30% de votos.

Bolsonaro tem uma plataforma nítida, embora diminuída pela sua rejeição por estigma, da direita que representa a destruição das bases institucionais da sociedade para o seu controle contínuo, baseado no apoio das classes médias iliteratas, base social do fascismo. Lula também expressa um projeto nítido, o da manutenção da economia de mercado e da ordem democrática com programas sociais, dentro de moldes similares a de seu governo passado, possivelmente com maior controle das ações administrativas dos que poderiam participar da administração para evitar os escândalos de corrupção que então ocorreram. Economicamente, Lula foi eleito em 2002 com o PIB em US$ 0,7 trilhões, entregando o governo em 2010 com PIB de US$ 2,2 trilhões, com o PIB caindo para US$ 1,4 trilhões em 2020 com Bolsonaro. A situação econômica e social será decisiva na alocação dos votos dos brasileiros.

Porque os candidatos da 3ª via não se unem em torno de um projeto comum? Primeiro, pela inexistência de um projeto consensual, que forme uma coerência de propósitos. Segundo, porque a aposta situa-se entre a chance e a sorte, na esperança que algo aconteça no eleitorado que leve o candidato à vitória. A baixa rejeição dos candidatos de 3ª via hoje se deve muito mais ao desconhecimento e percepção da pouca viabilidade destes candidatos do que à possível força que eles possam ter durante o pleito eleitoral.

Como diz o dito popular, mineração e eleição só depois da apuração. Mas é difícil a situação da 3ª via nas eleições presidenciais de 2022.


Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

Fonte: https://www.metropoles.com