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Quem tutela a República?

O cenário político brasileiro parece um perigoso descer de uma serra com trechos sinuosos, o freio do ônibus falhando, os passageiros amedrontados e o condutor incapaz de controlar o iminente desastre.

A boa notícia: há espaços para evitar o mal maior. É necessário buscarmos as áreas de escape institucionais, direcionar o veículo para uma delas, torcendo que a caixa de areia o contenha sem maiores danos.

A extremada polarização, fortalecida pela ascensão de líderes de perfil socialmente belicosos, permitiu a alguns desses condottieres abandonarem a saudável sensatez e decidirem descer a serra da governabilidade, acelerando com o “pé na tábua”. Resultado presumido: um desastre.

Acidentes de grandes proporções são causados por desacertos, dos pequenos e imperceptíveis, aos facilmente detectáveis. Envolvem os conceitos de imperícia, imprudência ou negligência.

Se o agente do poder se comporta como um condutor negligente, não possui as competências de um perito e os responsáveis pelo assessoramento são imprudentes nas ações preventivas ou corretivas chega-se na próxima curva da estrada com o veículo tombando sobre a confiança perdida e a esperança frustrada. Combustíveis conhecidos para soluções autoritárias.

Nessa aventura sui generis, ouve-se que operadores psicológicos, tentados por influências de toda ordem, estariam buscando a tutela da República, a fim de auferirem ganhos desalinhados com os padrões éticos que se esperaria em homens de bem.

Alguns analistas incluem o estamento militar como histórico tutelador dos destinos da Nação. Coerente com os ventos pretéritos que sopravam em nossa direção e alinhados com as demandas da sociedade fomos atores determinantes dos processos políticos.

Entretanto, seria inadequado um paralelismo entre o passado e o presente, para apontar que a Instituição Forças Armadas se movimenta atualmente como agente de tutela da Nação. Se há tutela, a Instituição não é a responsável pela atrofia do fragilizado poder.

Afirmou Samuel Huntington em O Soldado e o Estado: “a menos que seja criado um novo equilíbrio, a contínua ruptura das relações entre civis e militares não pode ajudar, mas prejudicar a dimensão do profissionalismo futuro.”

Desde então, o mundo mudou, e muito. Todavia, o pensamento do professor permanece atual ao valorizar como máxima do relacionamento o equilíbrio.

As informações fluem instantaneamente e as pessoas acessam prontamente as notícias que podem ajudá-las a conformar as suas opiniões.

A maioria reconhece as Forças Armadas com outro perfil. Profissionais, com foco insistente em cumprir o determinado na Constituição. Ainda assim, é inquestionável a necessidade de colocar-se na agenda pública a discussão séria sobre Segurança e Defesa.

Portanto, a manutenção da narrativa de responsabilizar as Forças Armadas pela dolosa viagem serra abaixo não contribui para a solução dos problemas do Brasil.

Se há imperícia, imprudência ou negligência, representadas por disfunções na condução da gestão do país, o natural e legal é enquadrar categoricamente o funcionário inábil. O voto é o maior antídoto.

Esse caminho já o trilhamos algumas vezes – a peregrinação exige temperança, com derrotas e vitórias – e sabemos como vencê-lo legal e democraticamente.

Não carece temer. Carece firmeza de propósito e coragem moral. O importante: que haja paz para edificarmos um país promissor para as gerações futuras. E sem confrontações acerbadas! De birrentos, estamos fartos.

Paz e bem!


Otávio Santana do Rêgo Barros. General de Divisão R1

Fonte: https://www.metropoles.com

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