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Planalto quer uma Petrobras igual à estatal venezuelana

Planalto quer uma Petrobras igual à estatal venezuelana

O motivo para a troca de comando no Ministério de Minas e Energia não é surpresa. A pasta tem influência sobre duas variáveis que têm sido críticas para segurar a popularidade — e o projeto eleitoral — do presidente Jair Bolsonaro: a alta dos combustíveis e a alta da energia. Em desafio ao interesse de Bolsonaro, o almirante e agora ex-ministro Bento Albuquerque defendia a política de preços da Petrobras e atacava iniciativas do Congresso para congelar a conta de luz ou destinar recursos a gasodutos.

Albuquerque foi o bode expiatório para o candidato que, mesmo tendo acabado de trocar o presidente da Petrobras, chamou o lucro da estatal de “um estupro, um absurdo”. O novo ministro, Adolfo Sachsida, é um economista liberal que também já criticou a tentativa de segurar os preços da gasolina e do diesel. Mas tem uma característica que o distingue de Albuquerque: é um bolsonarista canino. Foi o primeiro economista a se aproximar do presidente, antes mesmo de Paulo Guedes.

A sete meses do fim do mandato, não se sabe se Bolsonaro trocará de novo o presidente na Petrobras. Ele já dispensou do cargo Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna, por manterem a política de preços alinhados com as cotações internacionais. Nem bem assumiu, o novo presidente, José Mauro Ferreira Coelho, aumentou o diesel em 8,87% (terceiro reajuste do ano, num total de 47%). Não agradou.

O Planalto gostaria de implantar na Petrobras um modelo equivalente ao da PDVSA, estatal venezuelana posta a funcionar a serviço do chavismo e destroçada por Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Desde a gestão Pedro Parente, nomeado por Michel Temer em 2016, a Petrobras tenta, apesar das pressões do Congresso, adotar um modelo oposto, voltado ao mercado.

Parente recebera a estatal castigada pela manipulação de preços no governo Dilma Rousseff, responsável à época pela dívida mais alta do mundo (US$ 100 bilhões). A mudança de modelo e alta do petróleo equacionaram o problema. A Petrobras registrou lucro recorde de R$ 107 bilhões em 2021 e pagou mais de R$ 37 bilhões em dividendos ao Tesouro. No primeiro trimestre do ano, lucrou quase R$ 45 bilhões, gerando mais recursos ao governo na forma de dividendos e impostos.

Bolsonaro prefere ignorar essa parte da realidade. Também ignora que, quem quer que seja o ministro ou o presidente da estatal, será impossível intervir nela como no passado. O esquema de corrupção desbaratado pela Operação Lava-Jato foi uma das razões para a aprovação da nova Lei das Estatais em 2016, estabelecendo regras rígidas de governança e transparência. A própria Petrobras tornou sua gestão mais profissional. Ao sair, Luna e Silva afirmou que, pela lei, é impossível mudar a política de preços para satisfazer ao presidente da República.

A ideologia traz soluções fáceis a problemas intrincados. Sabe-se o que acontece toda vez que o Planalto intervém no mercado. Os efeitos não se restringem ao balanço da Petrobras. Apesar de a empresa ser autossuficiente em petróleo, 30% dos combustíveis são importados no Brasil. O resultado, ao primeiro sinal de congelamento político de preços, é o desabastecimento. Muito caminhoneiro bolsonarista ficaria sem diesel… Ajudaria se o presidente propusesse ideias para suavizar picos de preços sem desestruturar as finanças da Petrobras. Mas isso dá trabalho — e o obrigaria a descer do palanque.

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