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Pandemias, desmatamentos e vírus

Ao longo deste último ano nos habituamos a ouvir termos pouco comuns em nosso cotidiano, como pandemia, lockdown, média móvel e outros mais. Conhecemos um novo vírus e começamos a temer pelo que há por vir.

Tivemos que nos acostumar com a distância, com o medo do próximo, a ficar longe da família e viver com a ausência do abraço. Estabelecemos novas formas de nos olharmos de longe, de nos reunirmos através de uma tela e de comemorarmos datas importantes através da frieza de um computador.

Acostumamos-nos também a ouvir que tudo isso vai passar, pois tudo passa. Mas como tem sido dolorosa esta passagem!

A atual pandemia, que vem em forma de ondas, evidenciou para todos nós a grande fragilidade e efemeridade da vida humana. Não é nestes mares que gostaríamos de navegar. Essa doença demonstrou que devemos olhar para a natureza com mais cuidado e, acima de tudo, com muito respeito.

Vale alertar que pandemias estão também diretamente relacionadas com a degradação ambiental e, em especial, com os desmatamentos.

Nas florestas existem diversas formas de seres que vivem em equilíbrio entre si. Dentre estes, os vírus são os mais abundantes e presentes em todos os ecossistemas. Porém, os constantes desmatamentos aproximam cada vez mais o homem de novos vírus transmitidos por animais silvestres, as chamadas zoonoses.

A fragmentação de habitats promove rupturas em cadeias alimentares, fazendo com que populações de determinada espécie, antes em equilíbrio, se transformem em pragas e doenças.

A pandemia evidenciou que a preocupação com perda de vegetação não deve ficar restrita a um determinado grupo de pesquisadores. Os desmatamentos afetam a todas as pessoas, independentemente de onde elas moram ou do que fazem.

Cuidar de nossas florestas é cuidar do equilíbrio das espécies vivas do planeta e que, na ausência deste equilíbrio, nossas vidas entram em risco.

Com isso, cabe a toda a sociedade brasileira refletir e, principalmente, agir sobre a perda de 581 km2 de vegetação que ocorreu na Amazônia apenas no mês de abril deste ano, conforme dados do INPE. Este valor é 43% superior aos valores desmatados em 2020.

A situação agrava-se ainda mais, pois, é o segundo mês consecutivo de recordes históricos, já que, em março deste ano foram desmatados 368 quilômetros quadrados de floresta, 12% a mais que em 2020.

O mesmo cenário de perda de vegetação nativa se repete quando se considera o bioma Cerrado. Ainda conforme o INPE, o desmatamento nesta região em 2020 foi de 7.340 km2, que representa um aumento de 13% em relação ao ano de 2019, último período divulgado.

Nestes dois casos temos adotado a política de abrir a porteira para novas zoonoses.

Pandemias são mais um alerta, dentre vários outros, de que há algo errado na forma com a qual nos relacionamos com o meio ambiente. O atual surto que estamos passando indica a necessidade urgente de mudarmos a nossa postura e consolidarmos políticas públicas que preservem as matas.

É de se perguntar quantos alertas ainda serão necessários para entendermos que nós, auto denominados seres superiores, podemos sucumbir rapidamente quando confrontados com os seres que chamamos de inferiores.

Emiliano Lobo de Godoi é Diretor Geral de Extensão e coordenador do Programa Sustentável da Universidade Federal de Goiás


Fonte: https://www.metropoles.com

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