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Os pais da humanidade

Jeová, Tupã e Olurum eram os pais de Emanuel, Jaci e Oxalá. Eles eram muito poderosos e admirados pelas pessoas. A humanidade creditava a eles a criação das coisas que se sabiam existir no universo. O sol, a lua, os mares, os rios, as montanhas, a luz, a água, o fogo e a terra eram obras exclusivas da tríade divina. Os habitantes da Terra – apaixonados e fiéis seguidores de cada uma deles – discutiam e divergiam muito sobre a autoria de cada coisa que fora criada. E eram confusões de todos os tipos e tamanhos. Estes desentendimentos causavam muitas brigas entre as pessoas, inclusive guerras, genocídios e conflitos entre os povos.

As discussões dos adultos, entretanto, não atrapalhavam a amizade das três crianças. Elas não se incomodavam com as rusgas dos pais e de seus seguidores. Mas ficavam muito tristes quando as pessoas não compreendiam as birras e brigavam entre si. Emanuel, Jaci e Oxalá não gostavam de qualquer tipo de violência.  É que a elas foi ensinado a amar as florestas, os animais, os peixes, os pássaros e todas as criaturas que haviam no planeta.

– Eu não entendo essa briga toda – desabafou Oxalá. – Outro dia jogaram uma pedra em mim. E sequer me conheciam.

– E tudo que as nossas famílias ensinam é amar uns aos outros. Como podem esquecer o que é ensinado? – concordou Emanuel. – Meu pai nunca pregou o ódio. Ao contrário, ele sempre pediu que amassem aos próximos como se amassem a si mesmos. Que não fizessem aos outros o que não quisessem para eles próprios.

– Pois é, Emanuel! Eu sei que Jeová não concorda com essas pessoas intolerantes – explicou Oxalá. – Mesmo quando os intransigentes queimam os terreiros e maculam os Orixás, sei que usam o nome de Jeová em vão. O amor de vocês pela humanidade não permitiria tanto ódio.

– Acho que me odeiam também – aderiu a pequena Jaci. – Vocês sabiam que querem me condenar ao esquecimento? Meu pai falou que nos livros escolares nem o nome dele é citado. Vocês acreditam que as pessoas já não sabem que eu existo?

– Santa ingratidão! – exclamou Emanuel. – Logo vocês que moravam aqui no Brasil quando nossos pais chegaram. Como podem esquecer?

– Mesmo assim não os odeio – iluminou-se Jaci. – Oxaguian, como era mesmo aquela frase de Sidartinha? Aquela que ele dizia ter aprendido em Nepal?

– Ele dizia que “Jamais, em todo mundo, o ódio acabou com o ódio; o que acaba com o ódio é o amor” – respondeu, com voz carinhosa, Oxalá.

– Boa lembrança, Jaci – aplaudiu Emanuel, dando as mãos aos amiguinhos. – O que acham de uma oração para que o amor entre no coração dos adultos?


Cezar Britto é advogado e escritor

Fonte: https://congressoemfoco.uol.com.br

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