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Os botões da blusa do candidato

Os botões da blusa do candidato

A campanha eleitoral começa com muitos acontecimentos, mas nenhuma ideia. A anomalia eleitoral é clara: não há programa de governo para o futuro do Brasil em discussão. Candidatos de auto bordo, profissionais conhecidos, manejáveis e ágeis no deslocamento. Melhor acompanhar a eleição, sem precipitar. E ficar atento ao lado burrice dos inteligentes.

Campanha é como abotoar uma camisa corretamente. Quem errar a primeira casa do botão chega no fim desajeitado. E não adianta sair na frente se você está na estrada errada. Erra quem imagina que o mundo está muito preocupado com nossos problemas. A prioridade do estrangeiro para com o Brasil pode até ser politicamente alta, mas é economicamente baixa. Os principais problemas da nossa agenda são o próprio Brasil.

Não há país mais fácil de entrar do que o nosso. No entanto não há país que menos se esforce para ser atrativo, nem para os brasileiros que querem vencer pelo próprio esforço. Nosso modelo político e judicial não serve para o sucesso social e econômico do país e precisa mudar no próximo governo. Multipartidarismo estéril e Justiça fértil são caros e ruins.

Desde os anos 2000 a política iniciou sua migração para o sistema público de financiamento para fugir da interação social de ter que prestar contas à sociedade. O partidarismo pago ocupou o lugar do sindicalismo sustentado por imposto. O Congresso aumentou a força econômica do parlamentar do orçamento e, unindo esquerda e direita, fundou uma espécie de CPMF Partidária e Eleitoral. Perdendo a credibilidade e a representatividade pretendem sobreviver com dinheiro público. Pior, contando com a associação entre voto compulsório e contribuição partidária obrigatória esperam se perpetuar no poder.

Outro grande problema nacional é o Estado ficar contra a Sociedade quando se sente estabilizado com o desregramento do poder e a falta de restrição financeira para si mesmo, indiferente à saúde da moeda e as necessidades sociais. Não é a primeira vez que governo sócio da crise não gosta de arcar com as consequências do que faz. Dedica-se a ser popular. Todos terão que falar em programas sociais, mas que não usem a pobreza como forma de fazer o pobre subjugado, e nunca ser livre para poder se dedicar ao que pode ser.

Melhor aguardar as propostas para fazer a melhor escolha. Alguém que enfrente os problemas difíceis e retire o país dessa sauna a vapor descontrolada pela volta da inflação, desemprego, carestia, nível de atividade econômica baixo. Esperar-se pessoa normal, que ao tomar empréstimo se sinta endividado e disposto a pagar.

É inevitável o debate sobre a força dos costumes que fazem os interesses da corrupção predominarem sobre a responsabilidade da justiça. É urgente que o judiciário caia em si e reveja a prática de fazer interpretação própria da lei, ampliando a democracia torta que praticamos. Enquanto membros de governo tiverem o hábito de querer ser sócios de fornecedores haverá crime de colarinho branco. A lei é frágil como barbante para o poderoso.

Ninguém vence eleição com o voto somente de eleitor igual a ele. Em tempos difíceis, na urna de um vitorioso tem de tudo: raiva, interesse, simpatia, indiferença e niilismo. Um país sem um centro democrático forte e convicto imagina que tudo se converte em radicalismo. Precisamos da estruturação de uma governabilidade amena, centro-progressista, um sistema de cooperação para construção de uma estabilidade futura.

Merecer ganhar é importante para vencer.


Paulo Delgado é Sociólogo

Fonte: https://www.metropoles.com

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