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Oposição vê em declaração do ministro da Justiça armadilha do governo para tumultuar CPI da Covid

A iniciativa do senador Randolfe Rodrigues de pedir a convocação o ministro da Justiça, Anderson Torres, para depor na CPI da Covid, desencadeou uma DR entre os senadores de oposição e independentes. Os senadores estão discutindo a relação para definir a a melhor estratégia a ser adotada pelo bloco para lidar com as atitudes do governo Bolsonaro. 

Em entrevista no final de semana à revista Veja, Torres criticou a CPI. “A investigação vai se limitar ao governo federal? Precisamos seguir o dinheiro”, disse Torres. O ministro afirmou ainda que vai pedir informações da Polícia Federal aos delegados e superintendentes nos estados, no que foi interpretado como uma tentativa de intimidar a CPI. 

Randolfe, que é vice-presidente da CPI, e Renan Calheiros, relator, pretendem convocar o ministro para se explicar. Randolfe inclusive enviou um ofício ao ministro com questões sobre a entrevista. 

Para alguns membros da oposição, porém, a dupla está caindo em uma armadilha. “O que o governo quer é justamente tirar o foco da CPI num momento importante para as apurações”, diz o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). “Nós temos um rumo e não devemos nos desviar dele: reconstituir a cadeia decisória que levou à situação que temos hoje, para apurar de quem são as responsabilidades.” 

Sua posição é compartilhada por outros senadores ouvidos pela coluna, que pediram para não ter seus nomes citados. Vários acreditam que os bolsonaristas tem tentado desestabilizar o relator da CPI, Renan Calheiros, com pedidos de suspeição e acusações de conflitos de interesse. E avaliam que tanto o discurso de Renan na abertura da CPI como o apoio à convocação de Torres são mostras de que ele sentiu o golpe. “O líder da oposição é Randolfe, Renan não pode seguir a mesma linha”.

Randolfe, porém, não acredita que o pedido para ouvir Torres vá tirar o foco da CPI. “Não precisamos ouvir o ministro agora, temos outros depoimentos na fila. Mas é importante que ele saiba como se comportar diante de uma CPI.”

O ajuste de rota tem sido a tônica das conversas de hoje entre os membros do G7, que estão combinando uma tática comum para os depoimentos dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, marcados para esta terça-feira, e Eduardo Pazuello, que ocorre na quarta-feira.

Já há consenso de que o roteiro das perguntas deve ser montado de forma a destacar que, cada um a seu tempo, Mandetta, Teich e Pazuello serviam a um único chefe, a quem cabia dar a palavra final sobre as ações e omissões do governo federal: Jair Bolsonaro. 

No caso de Mandetta, o primeiro a ser ouvido, as estratégias da oposição e da situação convergem, mas com objetivos opostos.

Tanto um lado como o outro querem explorar erros cometidos pelo ministério da Saúde na primeira fase do combate à pandemia. Mas, se para a oposição essa é uma forma de mostrar que era Bolsonaro quem dirigia o ministério para decisões equivocadas, no caso dos governistas serve para insistir na tese de que Mandetta foi o único responsável pelos erros cometidos nos primeiros meses.

O difícil é saber como a estratégia dos governistas vai funcionar no caso de Pazuello. O general já disse muitas vezes que era Bolsonaro quem mandava e que ele apenas obedecia às ordens do presidente.

Malu Gaspar, jornalista

Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/

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