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O som que adoece

Alguém disse que o brasileiro confunde alegria com barulho. Como toda generalização sobre um povo, esta também é falsa, embora pareça ter um fundo de verdade. Aqui, aglomeram veículos com enormes caixas de som, uns “brigando” com os demais, numa cacofonia enlouquecedora. Da mesma maneira, há locais onde se escuta, em alto volume, várias músicas simultaneamente, todas misturadas. No caso, a falta de respeito com o próximo é uma das causas dessa poluição.

Há estudos – deveríamos ter mais – sobre o nível de ruído em cidades brasileiras. Quase sempre, a conclusão é que o barulho excede os limites definidos pelas leis e pela ABNT. É o caso de muitos locais em São Paulo, Campo Grande, Juiz de Fora, Rio de Janeiro e muitas outras, para não dizer em quase todas. Excede-se o limite definido em lei e…. nada acontece, salvo algumas barulhentas brigas entre vizinhos!

Muitos dirão, e com razão, que a poluição sonora não é o problema mais grave que o Brasil enfrenta, tantas são as outras fontes a poluir e degradar a vida, humana ou não. Ninguém dirá, por outro lado, que o problema inexiste.

Já argumentei que não devemos pensar apenas nos maiores problemas – desigualdades, injustiças, miséria, baixa qualidade da educação, etc. – pois, embora devam ser abordados com firmeza, urgência e sem demagogia, todos eles demandam anos para apresentar clara melhoria. Devemos enfrentar também outros – a poluição sonora é um deles –, passíveis de melhoria mais rapidamente. Assim, teremos Norte e uma baliza para saber se estamos avançando, a qual velocidade, ao contrário do mantra “retomar o desenvolvimento”, que ninguém mais sabe o que significa!

O excesso de ruído é problema de saúde e de finanças públicas. Causa elevação da pressão arterial, maior tendência ao estresse, baixa concentração, queda de produtividade, fadiga e vários outros males que, em tempo, se transformam em maior gasto do dinheiro do contribuinte. Reduz, portanto, a qualidade de vida, cuja elevação que deveria ser o principal foco de governantes.

Neste ano, o governo francês começou a instalar, em várias cidades, sensores capazes de fotografar veículos que geram decibéis em excesso. A ideia é, se aprovados os testes, espalhá-los pelo país e, assim como ocorre com nossos conhecidos “pardais”, multar os infratores. Além dos sensores, pensam limitar a velocidade máxima e plantar florestas ao longo dos anéis viários. A proposta visa, ainda, reduzir as desigualdades, pois lá os mais pobres tendem a viver em locais mais barulhentos. Para a França, estima-se que a poluição sonora causa um prejuízo da ordem de € 147 bilhões anuais!!!

No Brasil, campanhas políticas sequer mencionam a poluição sonora. Aqui, ao invés de buscarmos protagonismo no enfrentamento de problemas que degradam a vida, pelo contrário, temos como presidente uma pessoa que prometia – e felizmente não cumpriu – desativar os pardais.


Eduardo Fernandez Silva. Economista, ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

Fonte: https://www.metropoles.com/blog-do-noblat/artigo

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