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O cenário eleitoral se mantém inalterado e polarizado: as pesquisas repercutem de maneira previsível nas campanhas do presidente Bolsonaro e do ex-presidente Lula, este agora sonhando com a perspectiva de vencer no primeiro turno, uma aposta que não encontra respaldo no tempo presente.

Lula mantém o foco na direção do centro de onde pode sair o candidato da tal terceira via, que pretende bloquear com sua ação, por ora centrada nos bastidores. Sua fala mais recente remete para o atual secretário da Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central em seu governo e ex-ministro da Fazenda na gestão Temer.

Lula desperta a memória do mercado e do centro, para o melhor período de seu governo, o primeiro mandato, quando surfou nos efeitos do Plano real e dos bons ventos externos. Governou com os princípios da Carta aos Brasileiros que o compromissou com a preservação do Plano Real, razão das presenças de economistas tucanos no primeiro governo eleito do PT.

Bolsonaro também faz o que se previu desde o recuo do presidente incendiário que blefava com o apoio militar para um golpe, etapa final de um roteiro em que tentou desgastar ao máximo os poderes Legislativo e Judiciário. Daqui em diante, de forma gradual, alternando os tons, discursará cada vez mais para a sua base eleitoral, fiel ao método de falar o que ela quer ouvir.

Por isso, voltou a desdenhar das vacinas, criando a ficção de ser barrado em estádio de futebol por não ter o passaporte exigido a todos. Atacou o senador Davi Alcolumbre por postergar a sabatina de seu indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça, indiretamente criticando a composição da Suprema Corte, ao justificar sua indicação como forma de compensar a parcialidade da atual.

Ao atacar Alcolumbre, denunciou um crime: o de ter sido abordado por um parlamentar que lhe ofereceu o paraíso no Senado pela troca da indicação de Mendonça por outro nome. Ficou por isso mesmo, embora o episódio caracterize crime de extorsão e chantagem. E abraçou-se ao debate sobre o veto à distribuição de absorventes higiênicos para a população pobre. Um diversionismo ofertado pela oposição.

No mundo real, a inflação alcança os dois dígitos, o desemprego se mantém na casa dos 14 milhões de pessoas, a vacinação anda a passo de tartaruga e as reformas não saem do papel – exceto as que carregam interesses eleitorais do presidente e do centrão, que agora neutraliza o ministro da Economia para forçá-lo a ser mais permissivo do que já admitiu ao renunciar à sua doutrina liberal.

Paulo Guedes está se explicando ao Brasil e ao mundo financeiro internacional desde que a existência de sua offshore no Caribe veio o à tona na forma de um segredo de polichinelo. Se não atrapalhar, Guedes fica no cargo – esse o aviso embutido na sua convocação para explicar milhões de dólares em paraíso fiscal. Não está pendurado pelo erro da offshore, mas pelo mérito de obstruir mais demandas eleitorais no orçamento.

O silêncio de Bolsonaro, enquanto durar, é óleo na frigideira do centrão em que arde o ministro da Economia. A conversão de Paulo, o Guedes, é uma lobotomia capaz de salvá-lo. Sua demissão, pela offshore, cobrará isonomia com o presidente do Banco Central, Campos Neto, também proprietário de uma, justamente quando a autonomia do BC engatinha.

Enquanto isso, a única reforma que andou alguma coisa no governo Bolsonaro foi a do mandamento “amai-vos uns aos outros”, com a nova redação “armai-vos uns aos outros”.


João Bosco Rabello, jornalista

Fonte: https://www.metropoles.com

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