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Lembre-se: Bolsonaro não veio do espaço sideral

Parece estar se formando uma maioria bastante sólida entre os brasileiros de que Jair Bolsonaro é um energúmeno

, um détraqué, tosco, despreparado para o convívio humano.

Mas ainda não há consciência de que um personagem como este diz mais sobre a natureza do que sobre as excrescências da gente que manda neste país.

Jair Bolsonaro é o retrato horrendo e disforme do que se tornou o pensamento conservador no Brasil.

Não produziu nada capaz de estar em seu lugar, como seu líder, sua bandeira e -perdão pelo paradoxo – como sua expressão intelectual.

Bolsonaro é resultado de ação e omissão, ambas igualmente graves.

Sua raiz remonta ao momento em que o conservadorismo trocou de instrumentos: deixou a política e entregou-se à mescla entre a ação do Judiciário e da mídia como instrumento de poder.

Não lhes parecia perigoso: afinal, tudo estava entre os homens de punhos de renda, todos frequentadores dos mesmos salões, embora o último dos “príncipes” do baile fosse bem menos respeitável que o desejado.

Mas, ainda assim, era o retrato do que se transformara a nossa elite: bon vivants, arrotando sofisticação mesmo tendo se tornado ignorante.

Não funcionou em 2006 para vencer Lula diretamente, nem para vencê-lo em 2010 e 2014, indiretamente.

Já desta última vez, decidiam-se a quebrar as regras do jogo, dando poder aos instrumentos de destruição da vida política: o partido policial-judicial.

Para não alongar o texto com tudo o que você já sabe, restaram-lhes dois personagens: Sergio Moro e Jair Bolsonaro, ambos ideologicamente talhados para exercer o poder de forma autoritária e destruir qualquer projeto de afirmação nacional.

Bolsonaro, o viável eleitoralmente e o capaz de trazer o apoio dos militares (além dos mercadores do Evangelismo) foi colocado na presidência para fazer seu turno, “fuzilar a petralhada” e passar, outra vez, o bastão de mando para as mãos do alto clero.

Colonialistas e escravocratas, sim, mas com “modos e aggiornamento, palavra que adotaram, nos anos 70, como antecessora da tal “modernidade” com que se disfarça a velhice das ideias.

Mas está difícil, mesmo para eles, aguentar os ímpetos de uma classe média medíocre, que saiu, com seus arroubos fascistas, do armário onde uma década de declínio do regime militar e três outras de democracia formal a haviam recolhido.

Há um troglodita no poder e os que o puseram lá achando que o poder lhe daria modos verificam, apavorados, que não se acanha em limpar a boca com as toalhas de fina renda.

Talvez lhe venha este pavor por verem, projetada nele, a imagem daquilo que se tornaram.

Jornalista

Fonte: http://www.tijolaco.net

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