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Jair Messias em plena forma

Foi uma internação de emergência em Brasília, no Hospital das Forças Armadas, um voo de emergência a São Paulo, quatro dias de internação num hospital particular e especialmente caro, e pronto: Jair Messias superou uma obstrução intestinal sem precisar passar por cirurgia.

Como de costume, dentro do hospital ele atropelou todos os procedimentos mais elementares de respeito. Passeou sem máscara pelos corredores, demonstrando que além de sofisticado e destinado a ricos o tal Vila Nova Star é irresponsável por ter permitido semelhante aberração. Também concedeu entrevista a um programa grotesco de televisão, enfim, um absurdo atrás do outro.

No sábado, finalmente saiu demonstrando estar na mais plena forma. Contrariando um hábito adotado há mais de um ano, falou longamente aos jornalistas. E não por escassos minutos despejando ofensas e ameaças: foram 35 longuíssimos minutos. 

E repetindo aquela que talvez seja sua mais palpável característica, que demonstra a extensão do seu caráter e de sua dignidade, mentiu. E mentiu de maneira especialmente compulsiva.

Disse que respeita com fidelidade absoluta a Constituição. Se fosse assim, por que diabos o Supremo Tribunal Federal anulou vários de seus decretos precisamente por serem anticonstitucionais? 

Assegurou que sua atuação é de total transparência, esquecendo que extinguiu dezenas de conselhos que, amparados na lei, promoviam o controle e a transparência, principalmente os dedicados ao meio ambiente. Em outros, aumentou o número de participantes indicados pelo governo e diminuiu o de representantes da sociedade civil.

Voltou a martelar a tecla do tal voto impresso, mentindo sobre fraudes que teria sofrido.   

Tornou a dizer besteira sobre as vacinas, que seriam experimentais. E defendeu uma descoberta fabulosa: proxalutamida, remédio mágico. A verdade é que estão sendo feitos estudos, mas não se sabe nem se o medicamento será eficaz para o que foi criado, em casos de câncer.    

Tornou a dizer que a quarentena e o isolamento social são ineficazes, contrariando tudo que médicos e cientistas já comprovaram. 

Na manhã da segunda-feira ele retomou o velho hábito de parar e falar com o bando de seguidores mais fanáticos arrebanhados sabe-se lá como e a troco de quê. E reforçou a imagem de sua plena recuperação.

Continuou afrontando a realidade, a ofender integrantes do Supremo Tribunal Federal, a ignorar as evidências cada vez mais concretas do esquema de corrupção estruturado pelos militares incrustados no ministério da Saúde nos tempos do general da ativa Eduardo Pazuello, seu principal cúmplice no genocídio que se espalha pelo país.

Comenta-se que aproveitando sua internação, interlocutores recomendaram a ele que, diante do desmoronamento de sua figura junto à opinião pública, quando saísse adotasse uma postura mais moderada. Balela pura: moderação é, como a verdade, absolutamente incompatível com ele. 

De tudo que expeliu pela boca depois de ter o intestino desobstruído, houve uma única e solitária verdade.

Jair Messias disse que, com ele e seu governo, o Brasil avança.

Faltou dizer que avança rumo a um despenhadeiro sem fundo, a uma destruição sem limites.


Eric Nepomuceno, jornalista e escritor

Fonte: https://www.brasil247.com

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