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Enquanto houver racismo não haverá democracia nem nação

Eu vou morrer, eu vou morrer!

Não consigo respirar!

Ele não viu que eu estava com o uniforme da escola?

As frases foram ditas por pessoas diferentes, com idades distintas, em locais e ocasiões distantes entre si… O que há de comum? Todos foram assassinados… E por quê? Por serem negros! São frases de negros na hora da morte! Todos vítimas do racismo no Brasil. O racismo é agente da morte! O racismo é a morte do conceito de humanidade, é o pior de todos os vírus, é a impossibilidade da unidade humana, é o motor de todas as guerras.

E racismo mata, e o faz com e por crueldade! Há vários tipos de racismo, e no Brasil os mais evidentes são os levados a efeito contra os indígenas e os negros e negras, mas o desfecho é um só: crise da sociedade, impossibilidade de construir uma nação, inviabilização da democracia.

O racista está morto como ser humano!

A vítima do racismo sofre os vários tipos de morte, que começa com a discriminação e vai até o assassinato, pelas mãos dos que não conseguem ser humanos.

Para que uma sociedade se recupere disso, todos têm de ser antirracistas, por definição.

A sociedade, como um todo, tem de reconhecer o débito para com os segregados. E tem de tomar todas as medidas para saudar o débito, até que a igualdade entre seres humanos, mais que reconhecida, seja celebrada pela plena liberação ao acesso a todo o direito a que cada ser humano faz jus. Corrigindo os séculos de desigualdade por meio de ações afirmativas.

No Brasil, o racismo, em relação aos afrodescendentes, começa com um crime contra a humanidade, a escravização dos africanos negros – cometido pelos que, tendo traído a Cristo, continuaram a se dizer cristãos. E desembocou no estabelecimento de uma sociedade de castas. Que não só perdura no tratamento de viés opressivo da branquidade brasileira para com a negritude brasileira, como permeia a estrutura socioeconômica e política do país.

Já em relação aos indígenas, é preciso compreender que não haverá nação brasileira enquanto não tratarmos a invasão sofrida pelos povos originários. A contínua devastação de suas terras e cultura, e o genocídio de que são vítimas.

Isso tem de ser tratado com o arrependimento e a reparação necessárias, garantindo o direito à autodeterminação dos povos originários, segundo a Constituição Federal.

Também não haverá nação brasileira enquanto não tratarmos os quatro séculos de escravização, também, com o arrependimento e a reparação necessárias. Enquanto não reconhecermos que o Brasil é um país indígena-euro-africano, onde os de origem africana constituem, hoje, a maioria da nação. E que isso tem de aparecer em todos os segmentos da sociedade.

Enquanto houver racismo não haverá democracia nem nação.


Ariovaldo Ramos, Coordenador da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito Presbítero da Comunidade Cristã Reformada em São Paulo, SP

Fonte: https://www.brasil247.com

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