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Dezenove milhões 

Dezenove milhões de quê? De quilos de ouro achados, ou perdidos? De árvores plantadas, ou de incêndios nas matas? De mortes ou de curas? Dezenove milhões de quê?

Pode ser R$ 19 milhões de renda anual? Sim, pode; milhares – não milhões, mas milhares – de brasileiros ganham tudo isso a cada ano, e alguns ganham ainda muito mais. Pode ser o abate semestral de cabeças de bovinos no Brasil? Pode, mas de fato no primeiro semestre do ano corrente tal abate ficou pouco abaixo de 15 milhões. Pode ser um prêmio da Mega-Sena? Também pode, um bom prêmio, por certo! Quem sabe 19 milhões seja a população de um país, ou de um estado brasileiro? Dezenove milhões é a população da Venezuela, e Guatemala e Equador têm, cada, um pouco menos. No Brasil, só SP e MG possuem mais de 19 milhões de habitantes; o RJ, terceiro mais populoso, não chega a 17!

Então, 19 milhões de quê?

Essa é a quantidade de brasileiros passando fome, hoje! Pessoas em estado caracterizado como “insegurança alimentar grave”! Uma das fotos da semana na imprensa internacional é de brasileiros disputando ossos descartados por um açougue!

Quem deveria estar fazendo grandes esforços para reduzir esse número disse, recentemente, que “nada é tão ruim que não possa piorar”. O que esperar desse governante? Nada de bom, por suposto! Mas ele mesmo já disse nada entender de economia, que essas questões devem ser tratadas com o posto Ipiranga!

Continuando. O posto Ipiranga está preso em uma ideologia superada – nem mais o FMI a professa – e nos aprisiona a todos. Para levantar algum dinheiro para pagar um auxílio – bem inferior ao necessário, e inferior também ao aprovado pelo Congresso ano passado – decide elevar o custo do crédito, prejudicando milhões – certamente mais que 19 – de pequenas empresas e pessoas físicas, ajudando de sobra a agravar a fome e a elevar a inflação.

Como outra fonte de recursos, manobra para dar tom de legalidade à recusa, pelo Estado, de pagar o que deve. Providências para reduzir a prática estatal, já de longa data, de jogar para o futuro o acerto financeiro de seus variados desacertos, como impedir reajustes legais e outros? Nenhuma!

A mais clara, mais evidente, mais eficaz, mais necessária e mais justa providência não é vista por quem, além de cego pela ideologia, poderia ser diretamente afetado: elevar impostos sobre aqueles que, por ganharem valores anuais muito acima dos milhões de reais, pagam uma das mais baixas cargas tributárias do planeta e papagueiam que a mesma é muito elevada! Elevada mesmo para quem passa fome, mas não para todos!


Eduardo Fernandez Silva, ex-diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

Fonte: https://www.metropoles.com

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