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Bolsonaro em um cavalo cercado de ministros é lamentável

Patética e mambembe, para dizer o mínimo, a cena desqualificante protagonizada neste sábado, 15, pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, ao chegar montado em um cavalo – e acompanhado de quatro ministros – para participar de protestos promovidos por seus apoiadores e ruralistas na capital federal. Em períodos normais já seria um lamentável despropósito e uma desconfortante imagem para o país e para o mundo. No momento sombrio de pandemia e horrenda crise social e humanitária – com mais de 430 mil vidas ceifadas no Brasil, até aqui – o espetáculo se assemelha mais a um escárnio intolerável contra uma nação agredida e desolada.

À distância, de Salvador, a primeira reação do jornalista – ao ver o capitão e seu séquito de governo descer do animal e, sair, sem máscara e em completo desrespeito às recomendações médicas e da ciência, abraçando, beijando e fazendo selfies com adeptos na manifestação contra a CPI da Covid , os membros do Supremo Tribunal Federal e os adversários, em especial o ex-presidente Lula, a quem volta a chamar de “ladrão de nove dedos” e “o maior canalha da história do Brasil” – é pensar na antológica composição do grande compositor baiano, Batatinha, “Todo mundo vai ao Circo”.

Que diz: “Todo mundo vai ao circo, menos eu, menos eu… A minha vida é um circo, sou acrobata na marra, só não posso é ser palhaço, senão eu fico sem graça”. Grande e saudoso Batata!

Mas observo um pouco mais: “Patacoada”, imagino escreveria o imortal alagoano, Graciliano Ramos, ao ver o capitão presidente, no centro de Brasília, acompanhado dos ministros Ricardo Salles, do Meio Ambiente, Tereza Cristina, da Agricultura, e Gilson Machado, Turismo, e Tarcísio Gomes, da infraestrutura. E mandar descer metade das pessoas pessoas que estavam no trio elétrico para que ele e seus membro do primeiro escalão subissem no veículo, para saudar os presentes. De cima do trio, comunicou, sob aplausos ruralistas e adeptos, que está, “cada vez mais, legalizando armas no Brasil. Nenhuma palavra sobre vacinas nem sobre o clamoroso horror da mortandade pela covid no País. Depois, pasmem, sobrevoou o protesto em um helicóptero do Exército.

No fim, lembro do poema “Gaúcho”, de Ascenso Ferreira, o notável pernambucano nascido na Paraíba:

“GAÚCHO”

Riscando os cavalos!

Tinindo as esporas!

Través das coxilhas!

Sai de meus pagos em louca arrancada!

— Pra quê?

— Pra nada!


Vitor Hugo Soares é jornalista

Fonte: https://www.metropoles.com

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