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Bolsonaro caga para CPI da pandemia, vacinas, democracia…

A sabedoria popular sempre cantou a pedra: “Quem diz o que quer ouve o que não quer”. Quanto maior a besteira, mais sonora é a resposta. Acuado pela desastrosa gestão da maior pandemia dos últimos 100 anos, agora carimbada por denúncias de corrupção, com sua popularidade esfarelando, o presidente Jair Bolsonaro perdeu todas as estribeiras. Finge coragem ao sair xingando a todos que o contrariam, mas exibe covardia ao não responder ao desafio do deputado Luís Miranda sobre a conversa que mantiveram no Palácio da Alvorada no sábado 20 de março.

O medo de Bolsonaro é que tenha sido gravada a conversa, em que teria detonado o líder do seu governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, e prometido acionar a Polícia Federal para investigar as denúncias de roubalheira na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde. Por interesse ou receio, simplesmente não cumpriu a promessa. Seu silêncio virou piada nas redes sociais e em todas as rodas políticas de Brasília, inclusive entre alguns aliados.

Não cola mais suas manobras diversionistas de espalhar ameaças a torto e a direito para não explicar o assunto que realmente o incomoda. Nessa quinta-feira, naquele ridículo cercadinho com apoiadores do Palácio da Alvorada, entre uma asneira e outra, disse que estava ali há quase uma hora porque sua “agenda estava folgada”. Uma pandemia que já matou mais de 500 mil brasileiros, um desemprego recorde, um contingente enorme de gente passando fome, crises hídricas e energéticas no horizonte, inflação crescente…azucrinariam qualquer presidente da República minimamente sério.

Não é o caso de Bolsonaro, que, em vez de buscar soluções para os problemas, desdenha de tudo que não consegue enfrentar. Só nessa quinta-feira, deu dois exemplos dessa fragilidade. Como todas as pesquisas de opinião pública indicam que sua candidatura à reeleição está derretendo, ele fez uma grave bravata no cercadinho do Alvorada: “Ou faremos eleições limpas ou não teremos eleições”. A ameaça às eleições, mesmo como apenas mais uma fanfarronice, é um crime em si.

Mas o que ele considera eleições limpas? De alguma forma, a volta do voto em papel, que historicamente produziu fraudes de todos os tipos. As urnas eletrônicas que eles querem pôr na berlinda são o sistema mais seguro — e auditável — de votação. É desculpa prévia de perdedor — é o modo jeca de repetir aqui o vexame de Donald Trump nos Estados Unidos.

Mas com sua agenda folgada, Bolsonaro também gravou a live que toda quinta-feira divulga pelo Facebook. Para disfarçar o medo que sente pelo avanço da CPI da Pandemia no Senado, ensaiou falar grosso, “Hoje, o Renan, o Omar e o saltitante (referia-se ao senador Randolfe Rodrigues) fizeram uma festa lá embaixo, no Planalto, entregando um documento para eu responder. Sabe qual a minha resposta pessoal? Caguei”. E seguiu falando sandices nessa mesma toada.

A cobrança da cúpula é a mesma que a opinião pública. Afinal, qual foi a conversa com o deputado Luís Miranda e o irmão dele, o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo? Pelo jeito, além de deixar Bolsonaro nervoso, vai engrossar o rol das perguntas sem respostas como a famosa por que Fabrício Queiroz depositou dinheiro na conta bancária da primeira-dama Michele Bolsonaro?

A soma de omissões, mentiras e até crimes contra a saúde pública têm um preço. Se Bolsonaro acha que enrola o país com suas exibições no cercadinho do Palácio da Alvorada e em outros palcos, sem dar chance a nenhum questionamento, está muito enganado. A pesquisa Datafolha, divulgada nessa quinta-feira, mostra que sua popularidade segue em queda livre, inclusive em parcelas da população que até recentemente ainda o apoiavam.

Mais até que sua popularidade em queda, também aferida em outras pesquisas, o que deve machucar ainda mais o seu ego — e planos de reeleição — foi a constatação de que a maioria da população avalia Bolsonaro como desonesto, falso, incompetente, despreparado, indeciso, autoritário e pouco inteligente.

Com todo esse cardápio, qualquer pessoa com um mínimo de bom senso, pediria desculpas e cairia fora. Não é o caso de Bolsonaro, até pelo receio do que juridicamente pode acontecer com ele e sua família, vai tentar esticar a corda até aonde der. O que para eles menos parece importar é o preço a ser pago pelo país.

A conferir.


Andrei Meireles, jornalista

Fonte: https://osdivergentes.com.br

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