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A realidade se impõe

Na abertura de 2022, é crescente a formação de um consenso de que o Brasil requer um amplo consenso político para enfrentar e superar os seus graves problemas estruturais a partir de 2023. Se prosperar, será uma boa novidade histórica. O problema central do país é o conflito distributivo, que vem se acentuando. Para ser contornado e superado, requer um processo complexo e conflituoso de ampla articulação de um novo pacto de poder.

Um enorme desafio. Um novo contrato social, a ser construído ao longo do processo político-eleitoral de 2022 e, depois, durante todo o mandato do próximo presidente da República, pressupõe a eleição de um presidente com grande habilidade política e capacidade conciliatória. Formando, em 2023, um amplo arco partidário, respaldado pela sociedade civil, para governar. Tudo isso tem sido enfatizado por vários observadores da cena política e várias lideranças políticas, empresariais e sociais. É exatamente essa “consciência” que impulsiona um consenso sobre o consenso. Bom sinal. Afinal!

O foco da construção do novo contrato social é o combate às desigualdades. O problema econômico central é a desigualdade. Nesta intrincada equação, é preciso evitar rótulos sobre as idéias econômicas e superar divergência políticas em nome da tarefa maior de preservar a democracia e buscar a prosperidade. Para além das disputas pelo “neoliberalismo”, pelo “neokeynesianismo”, pelo “monetarismo”, e pelo “desenvolvimentismo”, dentre outras tantas idéias, experiências e teorias, o essencial é convergir para uma simples (por isso mesmo complexa) lição da História: a democracia e a paz requerem a prosperidade. E a prosperidade precisa ser articulada, orquestrada e sustentava por forte e legítima liderança política.

Essa liderança política, a ser eleita em 2022, precisa ter força política para orquestrar e coordenar um pacto de poder para reverter expectativas políticas e econômicas. A reversão de expectativas poderá gerar condições para um projeto de país e de desenvolvimento com um programa robusto de investimentos públicos e privados. E, ao mesmo tempo, com um programa de reestruturação de gastos públicos. É aqui que a vaca tosse. Tanto o programa de investimentos, quando o programa de reestruturação de gastos, precisam atravessar o rubicão do conflito distributivo. Sem liderança política, não anda. Já estamos cansados de assistir ao filme das reformas que não andam.

O novo mundo dos monopólios digitais amplia a complexidade dos desafios. Fernando Gabeira foi cirúrgico: “na pandemia de nossas vidas, vejo cada vez mais próximo o cenário do filme ´Blade Runner´, onde miséria e alta tecnologia convivem com naturalidade”. Desde a crise mundial de 2008, que acabou salvando o rentismo, mas ampliou as desigualdades, tem ficado cada vez mais claro que o problema econômico central da humanidade não é de produção, mas de distribuição. Assim, permanecemos, aqui e acolá, no Século XXI, com o mesmo problema central do Século XX, que inclusive inspirou o foco da obra de John Maynard Keynes: como combater as desigualdade e enfrentar as incertezas estruturais do processo de desenvolvimento econômico dos países?

Essa equação e desafio continuam também diante dos brasileiros. A nova economia dos monopólios é “Schumpeteriana”. Ela impulsiona o processo de “destruição criativa” e exacerba as desigualdades. É para enfrentar este desafio histórico que o próximo presidente do Brasil precisa ter capacidade política de reconciliação nacional.


Antônio Carlos de Medeiros, Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

Fonte: https://www.metropoles.com

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