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A plateia cansou do espetáculo que Brasília lhe oferece diariamente

Que país é esse que dá trela a um cantor sertanejo que prega o golpe abertamente e a um general da reserva que interpreta a Constituição ao seu gosto na tentativa de justificar uma eventual intervenção das Forças Armadas na vida política do país?

O cantor e o general, no ocaso de suas vidas, não comandam tropas. Um deve à União quase 700 mil reais, o outro recebeu da União em junho mais de 100 mil reais a título de salário e outros proventos. Já não é moleza ter que levar Bolsonaro em conta.

Nas últimas duas semanas não foram poucas as vezes em que ele ameaçou o país com um golpe e atacou ministros do Supremo Tribunal Federal, para ontem, como aconteceu em tantas outras situações, afirmar que não partirá dele qualquer ato de ruptura.

É um enredo que se repete desde que assumiu a presidência da República. Não engana mais ninguém, nem mesmo aos seus devotos. Mas abre espaço para que entrem em cena os áulicos sempre dispostos a contornar dificuldades e a cobrar caro por isso.

O “amortecedor de tensões da República”, como faz questão de apresentar-se o senador Ciro Nogueira (PP-PI), chefe da Casa Civil, reuniu-se com os presidentes da Câmara e do Senado e se reunirá com o presidente do Supremo para apagar o incêndio.

Os presidentes da Câmara e do Senado ditaram as declarações habituais de louvaminhas à democracia. (Ditadura é um ambiente nefasto a negócios.) Nogueira quer convencer Bolsonaro a desistir de pedir o impeachment de dois ministros do Supremo.

Política é teatro, mas o país depois de mais de dois anos de uma peça medíocre não só parece esgotado, como também os atores canastrões escalados para encená-la. Eles são bem remunerados para fazer o que fazem, mas a plateia não é para assistir.

A vida real pouco ou nada tem a ver com o espetáculo que Brasília oferece. O ministro da Economia virou motivo de chacota e nem os donos das maiores fortunas o levam mais a sério. Culpa o Congresso, a CPI da Covid e o Supremo por seu fracasso.

Enquanto isso, de vez em quando o presidente do Banco Central admite seu cansaço com um presidente da República que só atrapalha. Não sabe mais o que fazer para atrair investidores que se retraem inseguros com o futuro do país em curto prazo.

E ainda faltam 16 meses…


Ricardo Noblat, jornalista

Fonte: https://www.metropoles.com

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