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2020: Uma mudança de rumo no agro acreano

Em 2020 enfrentamos uma crise global sem precedentes na era moderna. A pandemia afetou de forma dramática as nossas vidas, nossas relações e nosso trabalho, milhões de vidas foram perdidas em todo o mundo. Graças à ciência, mais uma vez, conseguimos vislumbrar a luz no fim do túnel.

Apesar da Covid-19 e seus impactos negativos na economia e na vida das pessoas, o ano de 2020 se encerra com grandes avanços e realizações no setor agropecuário do Acre.

Tivemos muitas perdas, apesar do excepcional trabalho realizado pelos governos estadual e municipais. Contudo, mesmo que os preços de alguns produtos terem aumentado substancialmente, basicamente em função da variação do dólar e da pressão de demanda, principalmente da China, não houve desabastecimento de alimentos.

O Acre produz muitos dos alimentos que consome e essa produção vem crescendo ano a ano. Em 2020, o valor bruto da produção agropecuária do Acre foi de R$ 2,15 bilhões. Entre janeiro e dezembro de 2019, 60% de toda a comercialização de hortaliças e frutas feita pela Central de Abastecimento (Ceasa) de Rio Branco teve origem na produção do Acre, principalmente de Rio Branco, Plácido de Castro, Manoel Urbano e Capixaba.

A vitalidade do setor de hortaliças é especialmente importante porque gera muitos empregos em áreas próximas aos centros urbanos. A quase totalidade das folhosas (agrião, alface, cheiro verde, cebolinha, jambu, pimenta de cheiro, etc) é produzida no Acre. Tanto as redes de supermercado quanto mercados e feiras de bairro são abastecidas de modo seguro e permanente, inclusive por cultivos hidropônicos.

Outro exemplo é a pecuária, onde em 2019, o estado abateu mais de 416 mil cabeças de gado com produção de 97 mil toneladas de carne. Com uma população total de 894 mil habitantes em 2020, mesmo considerando um consumo médio per capita de 45 kg de carne, isso representa cerca de 40% do total abatido, gerando um excedente de 56 mil toneladas de carne que é comercializada para outros estados do Brasil, além de subprodutos que já são comercializados para outros países. Lembremos que este setor, diferentemente do que se apregoa muitas vezes, não é exclusiva de grandes produtores, mas contempla majoritariamente, uma classe média rural extremamente importante para o desenvolvimento acreano.

Ainda na pecuária, a produção e abate de aves e suínos e a produção de ovos e peixes vem crescendo e já atende grande parcela da demanda do Acre. Com o status nacional Acre Livre de Aftosa sem Vacinação e, alcançando o reconhecimento da Organização Internacional de Epizootias (OIE) em março de 2021, as perspectivas são muito favoráveis pois implica a abertura do mercado internacional para os produtos da pecuária do Acre.

No setor agrícola, a agricultura intensiva também vem crescendo de forma acelerada. Está em curso um processo vigoroso de conversão de áreas de pastagens degradadas ou pouco produtivas ao longo dos eixos das BRs 317, no trecho entre a divisa com o estado do Amazonas até Assis Brasil e da BR-364, entre a divisa com Rondônia e Rio Branco. As áreas plantadas com soja em rotação com milho já devem ultrapassar 20 mil hectares na soma da safra e safrinha de 2020-2021.

Pode-se afirmar que os agricultores estão fazendo a sua parte e, confiantes no governo do Estado, tem investido fortemente, com o apoio dos bancos da Amazônia, do Brasil, principalmente, e das Cooperativas de Crédito, na aquisição de máquinas e implementos agrícolas e na construção de infraestrutura de armazenamento e processamento da produção.

Como secretário de Estado de Produção e Agronegócio, em pouco mais de um ano de atuação fiz questão de ir a campo e acompanhar o dia a dia de muitos dos mais de 37 mil estabelecimentos rurais, em todos os municípios. Dados oficiais informam que temos um total de mais de 240 mil pessoas vivendo na zona rural e envolvidas com a produção no campo, o que vem garantindo a segurança alimentar da população e o desenvolvimento socioeconômico do Acre. Acompanhar este processo, remover gargalos e gerir a estrutura de apoio disponível no Estado tem sido ao mesmo tempo um desafio e um enorme prazer.

O Brasil responde pela alimentação de mais de 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo, além de gerar exportação de quase 100 bilhões de dólares e um superávit na balança comercial de mais de 70 bilhões de dólares em 2020. Mais uma vez, o setor agropecuário desempenha o papel de âncora da economia, ajudando o país a superar mais uma crise global. O Estado do Acre, antes aprisionado no setor extrativista, está sendo paulatinamente libertado para uma nova perspectiva, para uma visão que contempla a múltipla vocação de seu território.

As perceptivas para a agropecuária acreana são formidáveis. Estudos preliminares desenvolvidos pela Embrapa Acre, em parceria com o Governo do Estado, por meio da Fase III do Zoneamento Ecológico-Econômico, sob a coordenação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, já identificou cerca de 390 mil hectares de áreas já desmatadas com topografia suave a levemente ondulada e solos bem drenados, com excelente aptidão para a intensificação sustentável dos sistemas de produção agropecuários em sistemas de integração lavoura-pecuária com rotação de soja, milho e boi safrinha em uma mesma área durante o ano.

O apoio crescente do setor público, liderado pelo governador Gladson Cameli, desburocratiza e agiliza o acesso às políticas e programas e viabiliza a incorporação de tecnologias em sistemas de produção agropecuários intensivos e sustentáveis. Com isso, milhares de produtores têm sido beneficiados com o aumento da produtividade e da renda. Além disso, o crescimento do setor agropecuário impulsiona toda uma cadeia de suprimento de insumos e serviços, gerando milhares de empregos de qualidade e promovendo o bem-estar social no campo e na cidade.

Como sabem os que realmente conhecem o agronegócio, não há “cavalo de pau” possível no setor. Temos um longo percurso de destravamento, suporte e promoção das atividades rurais, até recuperarmos o tempo perdido e reposicionarmos o Acre em um novo e definitivo processo de desenvolvimento que, sendo sustentável no longo prazo, possa também gerar riqueza e oportunidades para o nosso povo.


*Edivan Maciel de Azevedo

Médico Veterinário, produtor rural e secretário de Estado de Produção e Agronegócio 

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